Poemas : 

POEMA PARA MIM

 
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POEMA A MIM
Nasceste em tempo de guerra,
Teus pais como os demais,
Meigos, amorosos,
Mas um pouco duros, espartanos,
Dando-te boas palmadas,
Mas fazendo pela vida
Para te não faltar comida,
Com poucas festas d’anos,
Eras esperto, ladino,
Menino traquino,
Fugidio,
Sabonete em banheira,
Escorregadio,
Na escola bom aluno,
Mas não eras o melhor da turma,
Sabias mais do que aprendias,
Dos muitos livros
Que a Gulbenkian te trazia
E dos filmes que vias!
Cedo acreditaste na ida do Homem à Lua
Porque antes já lá andavas,
Andar aos grilos, a roubar fruta e
matar cobras e passarinhos treinavas,
com raparigas gozavas,
teu colégio era rua, onde brincavas e guerreavas,
para teu pai trabalhavas, eras um bom artista!

Davas e levavas porrada,
Tudo isso ficou para trás,
De rapaz a homem passaste,
Muito coisa fizeste,
Alguma coisa estudaste,
Línguas praticaste ,
Língua nunca te faltou, no teu estilo maroto
Que dás sempre troco,
Casaste, de teu tronco nasceram rebentos,
De felicidade, de bons momentos,
Na idade a passar,
Contigo a voar,
Agora aqui estás,
Faltando um para os oitenta,
Do vai ou arrebenta,
Já um pouco ao pé coxinho,
A andar devagarinho,
O corpo a ficar para trás,
Mas a mente sempre à frente,
Não foste tu que te fizeste,
Não foste teu arquitecto,
Não meteste aditamentos,
Tiveste bons e maus momentos,
Por vezes armas-te em poeta,
Dizes, escreves umas tretas,
Até contigo gozas,
Escreves boas prosas,
É preciso cuidado contigo
Defeito teu não apreciares sacristias
Nem hipocrisias,
Não és de muitas missas,
Ninguém é perfeito,
Para engraxar não tens jeito
Tens a noção de tudo e de nada
És um sem graça ou com piada,
Muito podia dizer de ti,
Mas tu ainda és uma criança,
estás a crescer,
Um dia serás um homem,
Lembras-te quando escreveste o teu currículo?
Olha o que escreveste:

CURRÍCULO
Dizem que nasci em quarenta,
Não me lembro,
Porque tenho mais de setenta,
Depois ensinaram-me coisas
Que algumas vou fazendo,
Ler, escrever e contar até dez,
O que sei nem eu sei,
O que me falta saber ignoro,
Sei que gosto do sol,
Do amor e seus afins, que adoro.
Gosto da aurora da cada manhã,
Do lânguido descer da tarde até ao poente,
Gosto das brisas do mar,
Das sinfonias dos ventos,
Gosto de montanhas e vales,
Gostos de gentes,
Gosto de animais
Gosto do seu rei; o Homem,
Mas estranho bicho este,
Que ninguém ainda o percebe,
Pois que com tanta civilização,
Com tanta educação,
Ainda caga e mija na água que bebe,
E come pão, feito com farinha da poluição,
Mas de outros, para qualquer profissão,
Exige limpos currículos!

Do meu currículo nunca saberão,
Porque eu, com mais de setenta,
Sou ainda uma criança;
Um homem, que ser HOMEM
Ainda tenta.


E também o:

POEMA DO NADA

Um nada tornou-se num corpo
e estendeu-me sua mão,
meu corpo, absorto
com o nada da ocasião!

Eu e o nada fomos passear,
eu e o nada, a meu lado,
vimos coisas importantes;
impactantes,
mas o nada sempre a notar que
tudo será nada como dantes!

O nada, a mim tão colado!
que eu parecer um nada
parecia toda a minha condição!

Eu ter d’ir com o nada
para todo o lado
fui a única solução,
e ao vermos coisas importantes;
impactantes, o nada
sempre a fazer-me notar que
tudo será nada como dantes!

Eu já me parecia que,
desde o dia em que nasci,
era o nada que me acompanhava
em tudo que fiz e vivi!

Pronto. Aqui está um poema para ti!
………….xxxxxxxxxxx………….
Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
Gondomar- Portugal


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