Quando a nostalgia me chama
olho calmamente o infinito
e perco-me numa longa viagem
nas asas dos meus pensamentos
perfumados de acácia e manga
e permito levar-me por caminhos rubros
de pó, que voa com o vento...
cansado, mas feliz por esta viagem
sentei-me a descansar minhas emoções
sob o abrigo das longas copas,
das altivas árvores,
sentinelas do tempo,
vejo-me recuar à minha juventude
quando nas picadas
eu inventava paixões em encontros
de amor…
e o gigantesco imbondeiro
contemplava-me em silêncio
agitando como sinos de cristal
as suas dependuradas múcuas
numa melodiosa oração!
Mas o tempo…
inexoravelmente continua a esvair-se
no meu tempo
obrigando-me a suspender esta viagem
lembrando-me que o passado
faz parte da saudade
e o futuro, quiçá,
em breve seja finito!
De olhos semicerrados,
de coração latejante
e alma saudosa
aportei ao meu ponto de partida
neste meu presente
que guarda nos silêncios
os meus instantes de felicidade
José Carlos Moutinho
17/3/19
Decreto-Lei, nº 63/85
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