Dia vinte e seis de outubro de noventa e seis
Sob uma árvore, me protejo da chuva
Mesmo que eu tenha o guarda-chuva, molho minha blusa
Da janela do outro lado da rua, vive a musa
Mal sabes que estou aqui, vendo-a tocar seu violão
Notas que, em meio a fria tempestade, aquece meu coração
Não sei diferenciar minhas lágrimas das várias gotas
Acho que irei gripar se continuar com essas roupas
Mas, não quero me mover, quero vê-la, só mais uma vez
Quero abraçá-la em minha imaginação, mesmo que passageira.
A força do vento a obriga a fechar aquela janela
A janela que de longe tanto admiro, que de longe vejo aquele sorriso
Do outro lado da rua, com a janela fechada, está ela
Bela, por quem me apaixonei naquele dia de céu aquarela
Naquela janela está a minha porta para a felicidade
Joana, abra a sua janela, diga que me ama
Assim como já fizeste em meus lindos sonhos, doce dama.
Não se importe comigo, não estou com frio
Só me deixe ficar te admirando, apenas para saciar meu vício
Espero que você leia a carta que deixei à sua porta
Espero que a rosa junto a ela não seque
Espero que a tempestade não acabe, e que você continue aí
Tocando meu peito com o violão.
Joana, creio estar um pouco tonto, minhas mãos estão pálidas
Já amanheceu, meus olhos lacrimejam por não a vê-la da janela de sua casa
Joana, aceite minha carta, ela é tudo o que restou de mim
Com amor, o Tolo, fim.