Poemas : 

Nu Fim

 
Não me venham com a história
do futuro,
nem com puras fantasias,
não me venham nem com poesias.

Não me ditem com deuses,
nem com mitos de infinitos.
Dobro horizontes com o olhar que a vista não alcança.
Não me venham com a eternidade dos mortos.

No felizes, matem já
o para sempre,

que não há.
Creio, apenas, no sempre sem começo.

Não me venham com infernos e céus, nem purgatórios
maiores que a miséria, a fome
e a guerra.

Por isso
não me venham com histórias
do futuro.

Esse,
é só um onde
onde se acaba.



Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/03/2019 11:28  Atualizado: 08/03/2019 11:28
 Re: Nu Fim
.
Mia Couto (escritor que conheço mal, mas de que aprecio muito o pouco que li) dizia numa entrevista que era muito diferente das outras pessoas neste ponto: ouve-se muitas vezes dizer “não me contem histórias”; no entanto, ele pedia o contrário, que lhe contassem histórias, pois acreditava que é nelas que reside a essência individual e coletiva do ser humano.
Pressinto que o eu poético não renunciou completamente à fantasia (afinal de contas, ele vê com outros sentidos, ele pressente o oculto). Mas não tem paciência para os “amanhãs que cantam”, para os gurus da felicidade, para o sonho postiço. Como o compreendo…