CARICATOS
Talvez místicos sem fé
Que pelos templos sem Deus
Andam em meio aos plebeus
Longos cortejos a pé
Em busca dos gozos seus.
E que haja música! Festa!
Onde inebriada e incontida,
A mente permita a vida
Até porque, quanto resta,
É tê-la por fim vivida!…
Mas que linda fantasia!
Que máscara interessante!
Pelo meu Fado inconstante
Fora a minha alegoria
Uns andrajos vãos d’errante…
Ou senão “Príncipe ao Exílio”
Incerto já da carruagem
E mesmo até da hospedagem…
Desdourando o antigo brilho
Face à inútil vassalagem.
Não! Devo levar a sério
Os desvãos de minha mente…
E nem Deus omnipresente
Guardará mais Seu mistério,
Fingindo-se sempre ausente.
Ele vem à Terra. Agora!
Não amanhã ou depois,
Dizendo ser três ou dois…
Tão imenso quanto outrora,
Ouvindo-nos: — Por quem sois?!
Vem. Cedo ou tarde, afinal.
Gozar de humano senão….
Porque hoje é dia pagão!
Sim, porque hoje é Carnaval
E cada outro dia, ilusão…
Brinca, mortal como nós
Horas insanas; vadias….
Das noites como dos dias,
Antes de nós sermos pós
Em quartas-feiras sombrias…
Aliás, também fantasia,
Deus brinca co’as diabinhas…
Deixando às beatas sozinhas,
Partia para a boemia,
A rir das verdades minhas.
E, mesmo de todo errado,
Ele me acolhe em meu erro,
Soltando comigo o berro,
Sem futuro nem passado
Face ao presente desterro:
—“Esquidum-ziriguidum!
Tanto faz se errado ou certo
Tu que ora me vês desperto,
Brincando o lugar-comum
D’estes tantos cá por perto…”
"Verdadeira é a alegria,
Não quem humano ou divino,
Mostrando-se desatino
N’alguma noite vadia
Como força do destino…"—
Deus — folião também — perdoa
Para além de bem ou mal…
Quanto me for, afinal.
Eu e os outros, gente boa:
— “Só por hoje… É carnaval!!!”
Betim — 03 03 2019
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.