Conto Sintético e Assimétrico
Os “presentes” estavam esticados ao comprido numa zona escondida da praia.
Os veraneantes, banhavam-se, e bronzeavam-se não dando por tão infecta companhia. Um casal quase os pisava, quando procuravam um sítio discreto, para se amarem.
No bar um dos cagões fumava um charuto caro e bebia cerveja gelada. O seu parceiro de sujidade bebia vinho verde, e abria com cuidado o maço de tabaco. Deitavam o olhar guloso para as senhoras bonitas deitadas ao sol, com pequenos biquínis, sensuais.
A malta do surf espalhava-se pelas esplanadas de pranchas arrumadas, aborrecidos por o mar estar flat.
O que arriava o calhau de alto, perguntou ao que o fazia de baixo:
— Quanto tempo levará a encontrá-los?
— De um momento para o outro dão com eles — respondeu o que o fazia de baixo.
— Vamo-nos pôr ao fresco. A situação vai-se complicar.
— Não, vamos assistir calmamente, impávidos e serenos, ao desenrolar dos acontecimentos como meros espectadores.
— Mas alguém vai desconfiar. Tens a certeza que ninguém viu?
— Se nos viram vão pensar que estão enganados. Não contam que os autores da defecação vão esperar, com calma sepulcral. E que chegando o momento da imprudente descoberta despoletar se misturem ao ajuntamento de desacautelados, com os dedos apertando o nariz como tornos, para se salvaguardarem do fedor emanado da matéria orgânica solta em plena natureza, em plena praia por dois seres humanos cientificamente nauseabundos,
Em silêncio a placa com a inscrição em letras garrafais:
MANTENHA A PRAIA
LIMPA
– carpia angustiada, fitando o horizonte escuro, claramente tenebroso, insolúvel na acidez árida, despovoada da incerteza humedecida.