E qual é a novidade?
Estou perdido de novo...
Posso vagar pelas rachaduras da parede
Posso descansar sob a sombra do pinheiro
Eu posso sei que posso!
Sentindo o cheiro da relva
Conhecendo as criaturinhas que habitam meu gramado
Qual a novidade?
Se já não recordo do gosto do vinho?
Nem do gosto da noite...
Nem do sabor da irresponsabilidade
Sim irresponsabilidade tem sabor você sabe!
Não sabe?
Algo assim entre acriangustiadoce e urgenciadesesperoapimentada
Pode arder
Vais chorar
Vou chorar
E o que se diz do que arde?
O que arde cura não é assim?
E qual a novidade?
Se eu não sei por que os poetas são poetas?
Se não leio mais Neruda?
Nem me atrai mais Rimbaud?
Eles têm versos eternos eu sei que tem
Quantos bêbados os conhecem?
Terá Bukoswki os lido em algum boteco?
Entre o vinho e o uísque?
Sem cerveja... nunca cerveja!
E qual a novidade?
Se hoje compro livros obscuros em lojinhas populares?
Entre artigos de 1,99...
Nas cidades a cultura agora escorre por encanamentos estranhos
Alguns poucos cafés onde se pode respirar a antiga atmosfera!
Qual a novidade?
Se a escola cita Machado de Assis em suas obras didáticas...
E finge que Ginsberg não existe?
Não reconhece Dylan Thomas a menos que seja obrigada!
Quem quer saber?
Quem vai ver a exposição de arte?
Vasos sanitários pintados de prata!
Rabiscos em molduras brancas que cães espertos também sabem fazer
Fotos de pontos de luz em lugares vazios!
Isto é arte agora!
Quem vai ver?
Qual a novidade se o museu ainda esta La?
A mascara mortuária de Vargas!
Espólios de pobres nações indígenas massacradas só por estar La!
Por estarem no caminho!
Vestígios egípcios!
Esculturas Maias? Toltecas?
Quem se importa?
E qual a novidade se eu não sei disto?
Perdido de novo!
Longe de tudo o que me faria moderno e plenamente social!
Perdido de novo
Querem me achar
Dizem que o caminho esta diante de mim
Desvio os olhos
Prefiro as trilhas.