MURO DE JARDIM
Sentei me junto ao antigo muro do jardim escondido detrás do velho casario.
Tinha um rosto desgastado e distorcido por ter conseguido sobreviver às erupções do tempo.
As luzes distantes eram como chamas de fogueiras que lhe iluminavam e faziam cintilar os seus esverdeados tijolos.
Sim, esverdeados..., porque próximo estavam seres de energias estranhas que misteriosamente lhe embelezavam o rosto.
A máscara que apresentava faziam- no afastar dos vestígios fúnebres que por ele tinham passado.
Estava preso no presente, submisso à miragem secreta que, rendido, fazia do passado.
Irrefletido, deixou-se dominar pela opulência do jardim e deslumbrou-se pelo espaço que lhe comprimia docemente os tijolos.
Nunca imaginou, aquele antigo e velho muro de jardim, que já era idoso;
Que o tempo tinha galopado, qual "Cavalo Alado" e reduzira-o a uma singela e esquecida presença, naquele recanto, onde eu gosto tanto de me sentar.
Conta- me histórias escondidas de outros ouvidos e eu..., divago no tempo..., como uma sentinela rendida aos seus encantos.
Lembra-me, que um dia, também eu serei igual àquele velho muro de jardim.
Ana Maria Casaca