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Onde estivesses seria

 
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Onde estivesses seria na tua mão a força aberta
do silêncio
a rasgar ímpio semente copiosa da palavra.
O verbo
o verbo solto, o arrepio,
o calafrio hirto do Sol,
do Sol herético em movimentações d’almas
em voluteio de rio de montanha,
rápido em degelo pretérito.

Agora ali
e mais além, tão longe quanto meus olhos avistam
a Lezíria de horizonte infinito.
Do rio ao Sul vem
o rosa
o cinza-anil
no trespasse audaz da noite em novo dia. Boreal.

Aqui os cheiros, os tons,
das buganvílias,
das hortênsias novas,
em todos os jardins secretos de mim
e as flores, as flores, amado,
em quedas no pátio das laranjeiras ao fundo do quintal
em sons castanhos de terra…
sons d'antanho ... pétalas lado a lado.

Onde estivesses
celebraríamos o crescente do beijo em lavas da saliva
em ritos
em águas livres
em audácias esculpidas, prenhes de pranto,
de fogo, fogo-fátuo,
debulhado ao milho-rei em eira orbicular.
Linho crespo e branco, tecido brando de meu corpo
na roca do teu fiar.

… onde estivesses!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 04/04/2008 15:43  Atualizado: 04/04/2008 15:43
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: Onde estivesses seria
Mel,

admiro e gosto muito da exuberância tão comedida de imagens que instauram novas visões, inesperados murmúrios em córrego de pulsões, roçagares veladamente excitantes que se materializam em subtil escrita surpreendentemente táctil, gostativa...

Um beijo.