Foi-se embora sem se despedir.
Nem ao menos um adeus deixou.
Não teve dó nem piedade de mim.
Naquele dia um homem chorou.
Deixou a porta aberta e uma ferida.
Nem sequer voltou para trás a face.
Foi-se embora numa estrada comprida
Igual raios de sol num final de tarde.
Fiquei a chorar na cama e na vida
Umedecendo o lençol e travesseiro,
Adentrando-me tamanho desespero
Que nada ousou dizer minha língua.
Vi-te dissolvendo entremeio brumas,
Desaparecendo em um denso nevoeiro...
Não pude conter o comando dos dedos
Que, por si só, esticaram a tua procura.
Tombei, abatido em noites escuras.
Em prantos me perdi em pesadelos,
Em ondas envolventes de espumas
Que me arrastavam pelos cabelos...
Blasfemei contra Deus e os homens.
Maldisse contra os céus e os infernos.
Incinerei meu poema de mil versos.
Apaguei a tatuagem com teu nome.
Foi-se embora sem se despedir.
Nem ao menos um beijo deixou.
Lágrimas tantas saíram de mim
Que um outro oceano se formou.
Gyl Ferrys