Onde está a tua doçura?
Ficou guardada em alguma gaveta da tua alma?
Ficou esquecida em alguma esquina do caminho?
Carinho meu, que tantas vezes me afagaste o cabelo...
A cabeça passou a ditar os rumos da tua aventura?
E os romances? E as trilhas que levavam à Roma?
Perderam-se nas catacumbas cheias de caveiras e esqueletos?
Para onde foram tuas bochechas gordas? Teu sorriso-menina?
Teu coração virou pedra? Destas que dizem dormir tão bem, mas não sonhar?
A vida te acinzentou nos pretos-brancos dos tantos textos-livros que tens lido?
E a música? E Caetano? E o amor, minha princesa, art-nouveau da natureza?
Deixaste de gerar o sonho? Passaste a degenerar a esperança?
Pois tudo que era voo perdeu asa. Tudo que era brisa virou tufão.
O toque não mais acaricia, empurra.
O beijo não mais emociona, entristece.
Nada mais enterneceste desde a manhã em que perdeste a inocência.
Que sonho mau roubou-te a inspiração de ser doce?
A vida precisa ser tão dura?
A cruz e o fio dessa navalha são tão afiados assim?
Passado e futuro desapareceram?
Estamos presos num eterno presente destituído de qualquer beleza?
Taí meu investimento. Taí meus cinquenta reais.
E quanto será que valem meu coração, minha verve, minha presença?
Pelo jeito nada.
Perfeito! Já que nada a dever é tudo que conta, não é?