Poemas : 

O melhor para o planeta não é melhor para nós?

 
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Continuamos a ouvir discursos numa "argumentação clássica" acerca das desigualdades e da concentração de riqueza, quiçá a favor de uma redistribuição como solução (curiosamente, como solução para manter em movimento acelerado a roda do capitalismo na mira do mítico e sacralizado crescimento económico) dos problemas que ameaçam os capitalistas (e o capitalismo), constatando que as revoluções só acontecem quando a crise chega aos ricos, que já deixaram de o ser ou estão em vias disso.
Mas este tipo de argumentação não traz nada de novo e segue a lógica imperiosa do modelo económico paradigmático.
A estranheza deste tipo de discurso, para não dizer originalidade, é a recorrência dos plutocratas à desculpabilização de si mesmos e à culpabilização do Estado e dos governantes.
É incrível que “tenham” de ser eles próprios a vir dizer, com ênfase, que querem pagar mais impostos, que ganham demasiado dinheiro, mas que o Estado e os governantes nada fazem quanto a isso, ou porque não querem, ou porque andam “distraídos”.
Duvido que alguma vez na história tivesse ocorrido algo semelhante, que se vai repetindo um pouco por aqui e por ali.
O Estado, os partidos, os governos, parecem reféns da lógica da sua própria dogmática ideológica.
No futebol também há situações em que o jogador diz que não tem culpa de ganhar tanto, que nem pediu dinheiro, este é que lhe é oferecido.
De qualquer modo, estamos a assistir a uma realidade que está a passar ao lado dos discursos e das reivindicações dos nossos tempos.
Talvez possa soar a heresia dentro do paradigma clássico, mas é um facto que, sem ninguém o ter pretendido, ou por ironia do destino, a concentração de riqueza, com as inerentes desigualdades, sendo um escândalo social e moral, um pouco à semelhança do que acontece com as medidas de austeridade, mas muito mais grave, não deixa de ser uma “bênção” para o planeta, para a necessidade de o salvar.
Vejamos.
Se redistribuíssem amanhã a riqueza pelos que a não têm, o que é que aconteceria?
Não digam que todos ficariam melhor e que haveria mais ricos, porque os efeitos seriam devastadores... para o planeta.
Os níveis de consumo, se não forem controlados, talvez sejam a maior ameaça para a humanidade.
Se ao menos fosse possível alcançar menos consumismo de bens materiais, desperdício, destruição, poluição, extinção de recursos, em troca de mais consumo de serviços...
Mas este nó parece ser um nó górdio.







 
Autor
Carlos Ricardo
 
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