Sentei-me agora mesmo
na quimera do tempo,
olho a rua vazia de emoções
através da vidraça embaciada
da minha janela,
de onde posso ver o mundo,
pequeno mundo que me cerca…
senti o frio da tarde cinzenta e lacrimosa
que invadiu o meu sentir
deixando-me desconfortável e pensativo!
Melancolicamente
deixo o meu olhar vaguear
pelos verdes campos, onde árvores se agitam
ondulando elegantes ao vento…
Serenamente fecho os olhos,
imagino uma fascinante dança da natureza
e com os ramos faço passes de magia,
numa coreografia inventada no momento
em que o tango é o estilo que me apraz…
Outros ramos se juntam no salão
do meu sentir,
num rodopiar silencioso para o comum mortal,
mas… para mim,
tem toda uma sonoridade fantástica
e os passes de dança seguem-se num frenesim
de encantamento,
até que abro os olhos…
E quando o meu olhar volta a vaguear pelo ocaso,
somente vejo a chuva cair,
ininterrupta,
que me faz retornar à realidade
e do meu sonho, despertar…
Levanto-me da quimera do tempo,
onde estive instalado
e fecho a janela,
cuja vidraça está, ainda mais, embaciada.
José Carlos Moutinho
Decreto-Lei, nº 63/85
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