Corri à procura do impetuoso monstro do lago. Pulei nas águas profundas. Mergulhei até encontrar. Ele era estimado e também grandioso. Como se não pertencesse a este mundo. Tinha aparência distinta, de criatura extraterrestre e majestosa. Sua cabeça em forma de prisma possuía uma uma fenda escura e vertical no meio - como no sexo feminino. As águas eram sombrias e cheias de algas, o que me impedia de enxergar a sua verdadeira cor. Mas o seu corpo eu pude ver. O formato era de uma caixa torácica humana, em escala maior. E cada um de seus inúmeros tentáculos carregavam olhos nas extremidades. Havia um certo anseio dentro de mim. Uma vontade acerbada de encontrá-lo. Eu sabia exatamente as coordenadas da localização do monstro babilônico. E ele estava lá.
Com um toque de encanto, o transformei. Era magia, eu sabia! O vasto lago de águas barrentas só podia ser o meu quintal, que alagava quando chovia. E costumava brincar, durante a infância, com barcos de papel, bonecos mutilados e monstros imaginários. Mas, o feitiço.... era pura mandinga. Me fez transformar o monstro em objeto. De criatura viva e misteriosa à um barco de velejo. De repente, despertei em uma cidade extremamente formosa. Talvez na Grécia ou no sul da Itália. Eu estava no mar. Dentro do barco. Era dia e o sol queimava minha pele. Consegui avistar a orla daquela pequena cidade. E dentro daquele grande barco ostensivo que estava ancorado, eu sentei com as pernas para o alto. Que cenário lindo! Parecia que eu estava em "Portofino Mare" pintado por Giuseppe Amisani. O sentimento era de triunfo. E mesmo que estivesse possuído por uma culpa rochosa - pelo apego que tinha ao bicho do lago - havia uma certa leveza no ar. Como se um estado de graça tivesse sido alcançado.
Joe.