Poemas : 

EU ME CHAMAVA JOSÉ

 
(Réquiem for a Dream)


Do alto de uma nuvem, eu,
José flutuava com espanto.
Acima de mim haviam santos,
as dores não mais haviam,
eu não mais usava óculos,
e li, que escreveram na areia
que o meu nome era José.

No poema, escrito ficara:
Parido duma mulher mãe,
que num cartório firmara,
por um homem dito pai,
desde quando criancinha. ’
Junto com a história morreu;
José era esse o nome meu.

Noutras nuvens em movimento,
num bailado triste e lento;
ora arrastando-me ao ocaso,
rodopiando sobre as labaredas,
eram as chamas do inferno
que voltavam ligeiras, e de ré,
sombreando aquela praia que
na areia escreveram José.

José; muito assim fui chamado,
para suscitar dúvidas, arguido,
qual no poema de Drummond.
Mas não confundam, não era eu,
o tal da festa acabada dita.
Fui outro; um José menos amado.
Amado, tão quanto fui odiado
por não professar única fé.

A poesia ficou;
‘Eu me chamava José’.
O sonho acabou,
a vida acabou,
o poema chorou,
não há mais o mal;
a dor não há mais.
o José não há mais
após o carnaval;
não ressuscitou...

 
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ZeSilveiraDoBrasil
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/12/2018 09:59  Atualizado: 16/12/2018 09:59
 Re: EU ME CHAMAVA JOSÉ
Não atire sonhos nos dentes prateados das esferas.
Elas são belas mas não podem te mover.
A música não acabou...
Não deite magia nos olhos
do ébano.

José, realmente é um lindo nome.
Senti falta de ler
Seus poemas.
Grata pela partilha.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/12/2018 08:35  Atualizado: 18/12/2018 08:35
 Re: EU ME CHAMAVA JOSÉ
.
"Requiem for a dream" é o título de um dos melhores filmes de Darren Aronofsky, que nos descreve a espiral descendente de personagens "sem teogonia", como no texto de Drummond que recorda no seu poema.
Este José -- metafórico ou biográfico? -- também terá vivido os seus momentos de festa e de choro, de silêncio e de labaredas.
O que sobrou, no fim deste "carnaval" da vida? As palavras para quem as quiser ler, o amor de quem o amou.
Para mim, seria o bastante.