Do alto de uma nuvem, eu, José flutuava com espanto. Acima de mim haviam santos, as dores não mais haviam, eu não mais usava óculos, e li, que escreveram na areia que o meu nome era José.
No poema, escrito ficara: Parido duma mulher mãe, que num cartório firmara, por um homem dito pai, desde quando criancinha. ’ Junto com a história morreu; José era esse o nome meu.
Noutras nuvens em movimento, num bailado triste e lento; ora arrastando-me ao ocaso, rodopiando sobre as labaredas, eram as chamas do inferno que voltavam ligeiras, e de ré, sombreando aquela praia que na areia escreveram José.
José; muito assim fui chamado, para suscitar dúvidas, arguido, qual no poema de Drummond. Mas não confundam, não era eu, o tal da festa acabada dita. Fui outro; um José menos amado. Amado, tão quanto fui odiado por não professar única fé.
A poesia ficou; ‘Eu me chamava José’. O sonho acabou, a vida acabou, o poema chorou, não há mais o mal; a dor não há mais. o José não há mais após o carnaval; não ressuscitou...
muitas vezes em sonho me ponho a voar, talvez; seja porque o céu eu almeja alcançar... movo-me entre plúmbeas nuvens, mas a música eleva-me mais alto... Gosto do nome José, e tudo aquilo que lhe acrescenta. nada me faz recuar. grato por vir aqui.
. "Requiem for a dream" é o título de um dos melhores filmes de Darren Aronofsky, que nos descreve a espiral descendente de personagens "sem teogonia", como no texto de Drummond que recorda no seu poema. Este José -- metafórico ou biográfico? -- também terá vivido os seus momentos de festa e de choro, de silêncio e de labaredas. O que sobrou, no fim deste "carnaval" da vida? As palavras para quem as quiser ler, o amor de quem o amou. Para mim, seria o bastante.
a música orquestrada do filme me toca tanto quanto o Bolero de Ravel. para eu que sou sambista, longe estou dessas forças ou intenções que materializam divindades musicais. elevar-me a elas seria um heresia. há no texto pinceladas de metafórico e biográfico (menos biográfico, mais metafórico), é como escrevo; colho sementes cotidianamente e semeio-as aleatoriamente, "O que sobrou, no fim deste "carnaval" da vida? As palavras para quem as quiser ler, o amor de quem o amou."
Viver; Para mim, também é o bastante. grato pelo olhar.