MAL-VINDO
Sê mal-vindo tu que andas pelas sombras;
Tu que agora atravessas este umbral,
Cujos passos se orientam para o mal
E com olhos de morte cá me assombras!...
Oh potência das trevas infernal!
És ruína que em ti mesmo t'escombras...
Penoso caminhando nas alfombras,
Justo aqui tua estrada tem final?
--"Eu t'esconjuro! Espírito maligno!
Retorna tu e aqueles de teu signo"
De bem-vindo a mal-vindo tu passaste
Por pessoa não grata nem querida.
Tão nefasta presença desvalida
A nossa polidez toda em desgaste.
Tu és fútil! Não passas já d'um traste
Incapaz de cuidar da própria vida.
Como se convidou se desconvida:
Sai pela mesma porta qual entraste!
-- "Leva embora d'aqui tua maldade
Afasta-te, boçal, à obscuridade!
Tu és mal-vindo! Três vezes mal-vindo!!!
Trazes tão-só desgraça e mais discórdia
Aos festins que transformas em mixórdia,
Se inspiras, na balbúrdia discutindo,
Um conviva com outro desavindo!...
Sim, vai-te embora! Tem misericórdia
Dos que aqui se abrigam em concórdia
Antes que o nosso tempo seja findo.
-- "Caminha pela noite quem na noite
Mais espezinha as almas com açoite."
Mal-vindo pois maldito! Em maldições
És recebido aonde quer que vás...
Tu, que das horas boas fazes más,
Envenenando em vão os corações.
Deixa-nos, pois, com nossas aflições
Sem que nos manipules por detrás.
Tu, que nos trazes guerra, vai em paz
E busca companhia entre os vilões...
-- "Dá meia volta! Torna já d'aqui,
Esta casa não é lar para ti!..."
Betim - 14 12 2018