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Diários de oficina - VII

 
DIARIOS DE OFICINA - VII

Quinta-feira, 29 de novembro

O inverno chegou, o céu encoberto, vinte sete graus. Encontrei Nha Pu na porta da Padaria da Rua 22, nem falou comigo. Continuei descendo, o odor gostosa de mato e terra molhada.
Chico Buarque, o eterno Chico e sua antológica canção "Construção";
"Morreu na contra mão
atrapalhando o sábado

Seu Obina chegou olhou para dentro da oficina, esquadrinhando-a de ponta a ponta a procura da bicicleta de Claridio. Adivinhei a sua busca e adiantei-me:
- Ainda não foi vendida. O dono levou para dar um grau nela - Ele esboçou um sorriso irônico, Ontem a comparou com suas janelas também exposta na calçada e nunca foram vendidas"
As nove e meia encerrei o expediente. A tampa com as laterais dobradas. Então sentei na cadeira senhorial e pus a reler "Guerra dos Tronos"
Porém antes de começar a labuta fui surpreendido com a chegada de Seu Carlitos, um moreno baixinho, de boné e uma sacola. Ele pretendia comprar a bicicleta, pagando a prestação com a sua diária de trinta reais. Reside no Gapara, ajudante de pedreiro faz uns bicos lá pras bandas do Residencial Aquiles. Conversador, sempre encosta para um dedo de prosa. Hoje estava inspirado e contou-me suas aventuras. È separado e ex-companheira deficiente é pensionista do INSS, mora com a irmã no Bacanga e todo mês dar-lhe cincoenta reais. Nesta segunda, deu-lhe,. Almoçou duas vezes no Restaurante Popular do Anjo da Guarda. Depois foi tarear umas putas no centro velho. Embriagou-se, dormiu e acabou sendo roubado. Acordou sem nenhum tostão e sem a sandália também.
- Esse é seu filho? Perguntou-me apontando para seu Obina que o escutou e fez um ar de mofa.
-Não, é meu pai - respondi ironicamente.
- Ah! É esse é seu pai.
Nesse momento entrou Delegado de supetão, com uma ressaca de parar o transito e sentou-se no banco.
- E esse aqui é Delegado - disse-´lhe.
Seu Carlito o analisou dos pés a cabeça e confirmou silenciosamente. Encetaram uma conversa tipica de irmão do engenho e logo perceberam que estavam seco e precisavam de uma dose para calibrar os nervos. Mas ambos estavam liso e resolveram subir em busca dela num bar qualquer.
- Cadê foram juntos? indagou seu Obina voltando do café.
- Sim, subiram juntos.

O rapaz barbudo sem camisa, mas sem o carro de mão voltou e pediu-me novamente uns pedaços de ferros, eu cedi. Imediatamente começou a cata-los e a separa-los os pedaços menores. A companheira dele uma morena conseguiu duas caixas de papelões e o ajuda a enche-las. Olhando-a bem e reconheci, era companheira de um velho parceiro da Praça do Bacurizeiro, Mestre Bica.
- O senhor não esta me reconhecendo?
- Claro, a ex-senhora Bica.
- Cadê esse doido?
- Irmãzinha nunca mais o vi também. Dei um tempo lá da praça.
A caixa cheia e pesada, a reforçaram com um papelão e o amarram com um arame.Segundo o Barbudo pode dar trinta kilos. Pediu-me ajuda para coloca-la no ombro, explico-lhe que estou com o braço doente e não posso fazer força. Ela o ajuda e com muito esforço colocaram no ombro dele e foram embora felizes.
Claridio trouxe a bicicleta, depois já veio com suas ideias malucas e então pedi-lhe que a levasse. A oficina não tem segurança apara tamanha preciosidade.
Onze e meia
- Dez por um real - apregoa o vendedor de quiabos empurrando o carro de mão cheio deles até a borda
Ouço o barulho peculiar do carrinho de tres rodas de Seu Antoine, o negão das polpas de frutas vinda da feira.
- Cadê a mulher? Grita-me do outro lado da pista
- Em casa -
- Não é essa, a do carro.
- Ainda não apareceu.
- Só conversa da irmãzinha. tem que ter dinheiro- e dar uma sonora gargalhada tipica dos negros e volta a luta com o seu. Eu que fiz, deu muito trabalho até que acertamos e hoje ele se sente bem feliz e garboso com o seu.
Seu Vavá, o dono da tampa deu uma olhada nela e gostou do que viu. Jean Gaspar bateu o ponto rapidinho, veio comprar um saco de cimento na madeireira Bastos -Deixou Samuca fazendo os acabamentos na sua residencia.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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