Temo tecer um poema como costura
De coser restos e retalhos com carinho
Fazer em uma fazenda a abotoadura
Depois arrematar pulsos e o colarinho.
Do mesmo modo temo um poema-pintura
Onde eu traço um desenho em alvo linho
Faço um misto da parte clara com a escura
Para deixar o quadro terminado num cantinho.
Também temo um poema que seja música
Onde busco as notas nas cordas ou nos teclados
Ou quem sabe num oboé, numa lira grega rústica
Temo fazer um poema que possa ser musicado.
Por isso faço um poema como eu faço um filho
Com o mesmo gozo angelical que antecede ao escarro
Tenho o mesmo prazer quando acendo outro cigarro
Pensando se sou livre como um carro ou se sigo triste trilho.
Gyl Ferrys