Sê como ilha, erma,
indivisível, bêbada no olhar,
deixe-se girar na roda da vida,
mesmo que horizontes inalcançáveis.
Sustente-se nas amarras,
abraçando a imensidão do mar;
abissal,
anormal,
sobrenatural.
Ande à beira-mar
soprando o vento com
palavras etílicas, loucas, indizíveis
Sê qual aquele homem que
veio só,
viveu só,
morreu só,
deixando apenas
o solitário e vago olhar,
porque a vida não o entendeu...
Previsto;
simulacro de semideus,
mais do que, ou quase nada,
do que sempre foi, é ou será.
‘O tempo não para’,
tampouco ampara,
não repara equívocos,
nem danos irreversíveis.
Num longevo tempo aclara;
mas quando já corroída a carne,
diluído o sangue,
rompido ossos e cartilagens.
Ilha inabitável...
Quem dera possível
poder mandar parar de girar
os malditos ponteiros
do relógio de pulso,
que de segundo em segundo
faz questão de mostrar-se;
tempo inútil.
Diacho!...
Como sofrível o fim;
desconhecer o amor, o amar,
a natureza, as coisas,
a dúvida do próximo instante...
Maldito relógio de pulso!
Para quem deixar?...
Ficará para quem quiser levar!
O poema sabe o que há escrito,
e do jeito amorfo dito das coisas.
Talvez fuja da realidade, crua,
tão remota quanto a esperança.
Se ainda houver poesia injeta;
resistir-se-á, morrer-se-á?
Ela por si só não se desintegrará;
deixe-a lentamente ir.
Por hora; não a ejeto.