Pitoco*
Pitoco era um cachorrinho
Qu'eu ganhei do meu padrinho
Numa noite de natal
Era esperto, muito ativo,
Tinha dois olhos bem vivos,
Saltando pra-cá e pra-lá.
Bem cedo me levantava.
Pitoco que me acordava
Com latidos, sem parar,
Me fazia tanta festa,
Lambia na minha testa,
Queria até me beijar.
Nos domingos, bem cedinho,
Pegava meu bodoquinho,
Com pelotas no bornal.
Pitoco corria na frente,
Dando salto de contente,
Rolando no capinzal.
Aquele divertimento
De grande contentamento
Ia até no sol entrar.
Era um domingo de mês
E dia de Santa Inês: --
Tinha festa no arraial.
Minha mãe e a criançada
Todos de roupa trocada,
Na capela foram rezar;
Fugindo por outra estrada
C'o Pitoco eu fui caçar.
Hoje, dói minha consciência,
Por causar desobediência.
Pitoco latia... latia,
Mostrando tanta alegria,
Sem nada poder cismar
E eu tacava uma pelota,
Fazendo virar cambota,
Um pobre de um sabiá.
Pitoco me acompanhava;
De vez em quando sentava
E queria adivinhar...
De repente em agonia
Gritei à Virgem Maria,
Que pudesse me salvar
Uma urutu bem dourada,
Num galho dependurada
Estava pronta pra saltar!
Pitoco ficou arrepiado,
Ficou c'os olhos vidrados
E deu um salto mortal: --
Foi combater c’a serpente,
Repicou toda de dente,
Mais não pode escapar.
Pitoco morreu latindo,
Os olhos vivos, tão lindos,
Foi fechando devagar;
Parece que até se ria
Da minha patifaria
De não poder lhe salvar.
E neste mundo tão oco,
Onde os amigos são poucos,
Depois que morreu Pitoco
Nunca mais houve outro igual.
Maringá, 13.11.18
*compositor: Abílio Victor (Nho Bentico)
verde