O sonho que esta noite eu tive
Só não foi muito mais triste
Por causa dos fúlgidos olhos teus.
Sonhei que na estrada da vida
Eu era mais uma fera ferida
Distante, bem distante de Deus.
Uma nuvem me cobria a retina
Densa como uma espessa cortina
Semelhante a um leitoso véu.
Tocava-me o dedo da morte mofina
Peneirava uma chuvinha rala e fina
Privando-me do anil celestial do Céu.
A chuva me molhando a cara
O vento cortando feito navalha
A minha frágil pele de papel.
Sozinho em sono profundo
Sem seu céu, sem chão e sem mundo
Sentindo um gosto amargo de fel.
No sonho eu via muitos montes
Eu buscando belos horizontes
Após um longo período de breu.
Num sofrimento medonho e eterno
Queimando-me os fogos do inferno
Por eu ser mais um fervoroso ateu.
No sonho desta noite tão triste
Eu te juro que eu não me contive
Chorei quando te vi ao lado meu.
Vieste trajada de santa
Com uma cerúlea manta
Acobertando todo meu caminho
Pegando-me nas mãos machucadas
Beijando-me como beijam as fadas
Dando-me muito amor e carinho.
Chegaste curando-me das chagas e feridas.
Despertado, vou-me pelas estradas da vida.
Porém no sonho não caminho mais sozinho.
Gyl Ferrys