NO AMBULATÓRIO DA VILA
No corredor do ambulatório do Posto de Saúde da Vila Embratel esperando ansiosamente pela consulta com a psicóloga. Na chegada me postei atrás de uma enorme fila, onde predominava jovens mães com seus rebentos no colo. E assim fiquei até uma agente de saúde valetudinária gritar:
- Quem vai consultar com a psicóloga, vá para o segundo guichê.
Eu e mais quatro pessoas dirigimos para o local indicado - fiquei atrás de uma senhorita que conheço de vista e então percebi que não trouxera os documentos e dei um pulo em casa para apanha-los e voltei no mesmo rastro - a senhorita ainda estava sendo atendida... na minha vez surgiu outro empecilho, não encontraram o meu prontuário, mas a gentil atendente contornou-o preenchendo outro. E um fato interessante lembrou-se do nome de Mama Grande ao lê-lo no RG. Tudo formalizado mandou-me esperar nesse corredor abafado e calorento. Somos oito pacientes impacientes a espera da digníssima doutora que atende a primeira, uma senhora loura passada de rosto macilento.. Um hiperativo descontrolado corre de um lado para outro a pobre da mãe paciente como Jó tenta controlado. Uma bela jovem jovem medica dos cabelos louros, sem jaleco entra na sala em frente. Presumo ser pediatra. A nossa psicologa chama o segundo - um gurizinho sapeca e a mãe apressam em entrar no gabinete e fecham a porta. O hiperativo depois de muita traquinagem sentou-se nas pernas da mãe aquietando-se.
- Eta calor! - reclama uma senhora sentada ao meu lado
- E ai bonitona! exclama uma jovem mãe empurrando com dificuldade um carrinho de bebê para a minha vizinha reclamona.
- O gabinete da psicóloga onde é? Pergunta a jovem e bela medica, todos olham para a porta e ela a abre e adentra sem a menor cerimônia.
Os pequeninos arreliados choram, chamam pelas mães. Talvez o mormaço esteja os agoniando.
- Mamãe vou apertar esse botão - disse outro maiorzinho perto do interruptor da lâmpada.
As medicas e as enfermeiras passam serias e obstinadamente silenciosas.
- Senta no colo de vovó, te levanta do chão - admoesta complacentemente a vizinha para o hiperativo.
A cada ranger das dobradices do consultório nossos olhos se convergem para a porta. A mãe e o filho saíram e a doutora em pé no portal chama a terceira paciente, uma mocinha , levanta-se rapidamente e entra. Respiro aliviado.
Um medica carrancuda de idade avançada passa com cara de poucas amigas, não fala com ninguém, esta a procura de uma sala, irrita-se, murmura alguma coisa ininteligível e finalmente entra no consultório no fundo do corredor.
- Ela é muito ignorante - falou a vizinha do meio. - Nem parece que estudou. Ela não devia trabalhar aqui. Entra e nem dar sequer uma boa tarde, arre.
As vezes entra uma lufada de vento quente. As jovens mamães com seus bebês tagarelam frivolidades entre si. O rapaz que estava sentado de frente para mim entra, talvez o próximo seja a menina que eu estava atrás na fila. A bela e jovem pediatra primeiro atende a criança sozinha depois é que manda a mãe entrar. Tempos modernos.
A psicóloga foi bem amável e receptiva, ouviu todos os meus males, falei-lhe da grande melancolia, das tristezas, a perda da motivação para viver, das duas tentativas de suicídio quando era adolescente, das bebedeiras e os pensamentos desconexos.
- Seu problema é serio vou lhe encaminhar a um psiquiatra.
Fiz um ar de espanto - Não, o senhor não é louco, lá ele tem remédios para combater esses sintomas.
Respirei aliviado e agradeci-lhe cordialmente pela atenção. Entregou-me a requisição e desejou-me as minhas melhoras.E sai da mesma maneira que cheguei... o sol estava a pino e os sonhos mortos.