Canto o novo e canto o velho
com o mesmo encanto:
Há no ar menino
a dor da primeira vez;
a sina da descoberta de todo o cobertor
no meio dos porquês,
o brilho do ardor.
Há no da idade
a sombra fresca do calo,
o sabor do tudo feito e outras vezes repetido;
a calmia do intervalo,
o detalhe vivido.
Há nos começos
a crença e a esperança.
A ilusão dos planos é a pimenta
jovem, que não se cansa
se erra. Experimenta.
Há nos desgastes
o trabalho da lima.
no império que expira e inspira,
um brilho quase perfeito, que a ele prima,
como pira.
Tenho tanto gosto pela gaiata
que traz consigo o destino maduro
como no velhote, cheio de prata,
que vive de olhar posto no futuro...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.