Como podemos nos sentir iluminados
se não passamos de ovelhas negras,
olhe bem, não é possível que não vêem
como brilhamos
o estranho é mais normal
do que aparenta,
é tudo uma questão de ser
o que se é, o que se pode ser.
Como podemos nos sentir iluminados
se as expectativas não foram alimentadas
seus olhares nos secaram,
a ausência também. Desculpe se quebramos o molde
não conseguir mexer meus braços
me entristecia,
agora estou livre
e percebo como algumas partes
ainda estão atrofiadas.
Desculpe se fazemos bastante fumaça.
Talvez seja apenas um afogamento
do que nos sufoca. Então fazemos verdadeiras estufas. Somos flor que não se cheira,
aprecie de longe, no momento certo,
o desabrochar de pétalas geniais.
Conheço quem ama o mar
outro que ama cantar
outros que amam amar,
isso deveria vir com um manual
ou eles que complicam de mais
e mesmo assim se completam
e so de falar no mar
o vento se agita
e o mar de seus olhos se agitam.
Dê a ele um violão e verá.
Queria um bom livro para
ler, não me sinto confortável
com releituras.
Queria ser autodidata na maioria
das artes, da criação.
Um nó, um grito preso em meu peito
enlouquece meu pobre e coitado
cérebro: Arte! Arte! Crie! Se alimente... CRIE! ARTE.
Mas não é todo momento
que meus poros transpiram genuinamente
mas não é em todo momento
que o ambiente está favorável.
São raros os dias que ocorre
uma criação em locais, até então,
inapropriados.
Queria me sentir um pouco menos apático, enterrei vivo meu amor
para ele agonizar até morrer,
vesti o terno e desde então me sinto em um caixão.
Queria que o dia se tornasse dia
um pouco mais tarde hoje,
me sinto confortável enquanto
estou, sentado, banhado por essas
luzes amarelas e por esse
azul escuro sem estrelas.
Queria que os deuses me deixassem
um pouco sozinho com a arte
como pessoa, tempo suficiente
para um abraço e um: "obrigado pela possibilidade de me sentir vivo."
Só queria mesmo... Sinto que os deuses
se alimentam de minha sede, até então,
insaciável.