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Re: Mente o temerário
. Há uns anos, havia um segmento num dos telejornais portugueses, que se chamava "E se fosse consigo?". Nele, um grupo de atores encenava no meio da rua uma cena de agressividade e filmavam-se as reações dos transeuntes. Há uma grande dose de "voyeurismo" e demagogia em experiências como esta, mas também há momentos genuínos que nos fazem refletir.
Num dos episódios, há uma falsa cena de ciúmes, em que o namorado grita com a namorada, insultando-a e pedindo-lhe o telemóvel. No meio de muitos desconhecidos -- alguns que intervêm, outros que nada fazem -- surge Catarina Martins, conhecida dirigente política, que resolve parar e falar com o casal. O que me surpreendeu foi o facto desta mulher, ativista habituada ao confronto político no palco do parlamento, estar visivelmente assustada, em luta contra o receio inconsciente de ser agredida, que competia contra a sua necessidade de agir. Apesar de me sentir mais à esquerda no espectro político, Catarina Martins está longe de ser o meu ídolo, mas, naquele momento, ao ver o conflito interior daquela mulher a tentar fazer o que está certo, admirei-a e invejei a sua coragem.
A coragem só existe naquele que age apesar do medo. Nos outros casos, ou é irresponsabilidade, ou é instinto. Contrariando o medo, nascem os valores e nasce o humano (por alguma razão, "valor" e "valente" partilham a mesma etimologia). É essa a resposta à pergunta da última estrofe.
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