Poemas : 

do que derrama

 





inflo-me,
caçando vacuos,
comprimo
natureza
já de berço na grandeza

robusteço-me
de sentimentos que
rompem (me) e transbordam

ora apelando
quem tem sede
ora desgastando
quem não cede
ora retornando
à fonte
enfartada
ora calada...

hora afogada

tem (me)
o mundo
fartando a mesa
metrificada
pelo tempo

fastio de mim
tem esta gigantesca
fome
escapada das
entranhas

por isso,
talvez, só me
abocanha mas
nunca
me come




Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.

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MarySSantos
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 20/09/2018 15:51  Atualizado: 20/09/2018 15:54
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: do que derrama
"(me)" duas vezes.
Colocando "do que derrama" muito próximo (visceralmente) do sujeito poético.

A caçadora de vacuos, com que se infla, tem uma forma suis generis de terminar a sua inquietante dissertação, estranhando o abocanhamento em deterimento da deglutição.

Parece quase que lamenta o fastio, ardendo pelo consumo, afastando-se, assim, da sobrevivência.

Os sentimentos são um alimento tão insubstancial, que me reportam à expressão "o amor e uma cabana", e me transportam repentinamente à "gigantesca \ fome \ escapada das \ entranhas" (muito boa a personificação e a imagem levou-me por momentos à descrição da Fome nas Metamorfoses de Ovídio) que não se sacia, mas a repulsa não pode ser total, porque não lhe resiste a provar.

A fome e a sede que não cede (gostei da homofonia) são recorrentes ao longo do poema.

Que volta sempre à fonte. Às raízes. Talvez a ele mesmo.
À natureza, e o que há de grandeza nos sítios mais inesperados.

Inesperadamente, parece que neste poema andamos em círculos, circulamos pelo ciclo da água e pelo ciclo da fome
Cheios e com um momento invariável que nos leva ao que nos alimenta.

bj