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Rogério Beça | Publicado: 20/09/2018 15:51 Atualizado: 20/09/2018 15:54 |
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Re: do que derrama
"(me)" duas vezes.
Colocando "do que derrama" muito próximo (visceralmente) do sujeito poético. A caçadora de vacuos, com que se infla, tem uma forma suis generis de terminar a sua inquietante dissertação, estranhando o abocanhamento em deterimento da deglutição. Parece quase que lamenta o fastio, ardendo pelo consumo, afastando-se, assim, da sobrevivência. Os sentimentos são um alimento tão insubstancial, que me reportam à expressão "o amor e uma cabana", e me transportam repentinamente à "gigantesca \ fome \ escapada das \ entranhas" (muito boa a personificação e a imagem levou-me por momentos à descrição da Fome nas Metamorfoses de Ovídio) que não se sacia, mas a repulsa não pode ser total, porque não lhe resiste a provar. A fome e a sede que não cede (gostei da homofonia) são recorrentes ao longo do poema. Que volta sempre à fonte. Às raízes. Talvez a ele mesmo. À natureza, e o que há de grandeza nos sítios mais inesperados. Inesperadamente, parece que neste poema andamos em círculos, circulamos pelo ciclo da água e pelo ciclo da fome Cheios e com um momento invariável que nos leva ao que nos alimenta. bj |