Poemas : 

Overdose

 
Trancado dentro de mim mesmo
Como num castelo de Walter Scott
Olhei-me e perguntei ao espelho
Se era serafim num verso de Klopstock.

E acabou que entrei em sono profundo
Tudo era branco lembrando um inverno
De repente estava no centro do mundo
Cérbero ladrava no portão do Inferno.

Sem fio de Ariadne e sem Dédalo
Perdi-me naqueles estranhos labirintos
Sem asas de cera como as do menino Ícaro
Procurei, como Dante, ajuda em Virgílio.

E, do nada, eu nadava em suplício num rio
Onde um óbolo era o preço da barca de Caronte
Ouvi gritos, arrastos de correntes, vários gemidos
E na minha frente vi homens torturados aos montes.

E lembrei-me daquele herói da cidade de Ítaca
Que dez anos ficou sem voltar para sua amada.
Lembrei-me do poeta que a nado salvou o Lusíadas
Quando vi sorrindo Aleister Crowley numa maca.

No rio de lamentos haviam poucos navegantes.
Na verdade parecia-me que eu via somente um:
Era Dom Quixote, personagem do grande Cervantes,
Montado no Rocinante enquanto Sancho bebia rum.

Tudo ali era extravagante, extraordinário, extra.
Acho que vi Jack estripando prostitutas nuas e imundas,
Lúcifer tomando um cálice de sangue com a mão destra
E diabinhos em orgias com umas raparigas bem vagabundas.

Depois tudo me pareceu tão surdo, turvo que eu não sei.
Mas, pela barba, parecia que eu via uivando o velho Raul.
Parecia-me que virava churrasco o piloto do Enola Gay
Empalado até o talo numa vara de mais de metro e meio de bambu.

Por fim, acordei todo suado e percebi que estava no meu quarto.
Haviam três dias que eu estava adoentado, gripado, constipado.
Rezei um Pai-nosso, benzi-me dez vezes e rezei dez ave-marias.
Depois foi que eu percebi que tinha errado as dosagens de Amoxilina.



Gyl Ferrys

Walter Scott:(Edimburgo, 15 de agosto de 1771 – 21 de setembro de 1832) foi o criador do verdadeiro romance histórico. É certo que, pouco antes dele, alguns autores, entre os quais avultou Maria Edgeworth com o seu curioso «Castelo de Rackrent», tinham procurado dar uma feição definitiva a essa modalidade literária, mas o público e a crítica não compreenderam a intenção.

Walter Scott nasceu em Edimburgo e era filho de um advogado. Seu pai destinou-lhe a carreira de Direito, mas ele depressa a trocou pelos entusiasmos da literatura e pela adoração das antiguidades.

Aos vinte e dois anos, Walter Scott era já considerado o primeiro poeta nacional, famoso pela «Canção do Último Menestrel», onde se adivinhava ligeiramente o surto que o seu espírito estava conseguindo. Foi um nacionalista favorável à causa jacobita, mesmo ciente de que tratava de uma "causa morta", conservador na política, favorável aos Tories[1]. E, de fato, passados tempos, estreava-se como romancista, apresentando anonimamente um volume intitulado «Waverley», no qual relatava o levantamento jacobita de 1745 e dava largas aos conhecimentos que adquirira durante longas pesquisas. O livro foi coroado do mais absoluto sucesso.

Possuidor de uma energia inesgotável, ele escreveu sem descanso, oferecendo-nos obra sobre obra.

Friedrich Gottlieb Klopstock: foi um poeta alemão (Quedlimburgo, 2 de Julho de 1724 - Hamburgo, 14 de Março de 1803).

Antigo aluno da escola de Schulpforta, estudou teologia nas universidades de Jena e Leipzig. Discípulo de Johann Jakob Bodmer e da escola suíça, descobriu com entusiasmo a obra de John Milton. Decidiu escrever uma epopéia religiosa chamada Messias, à qual se dedicou durante vinte anos (1748/68). Com esta obra em vinte cantos, Klopstock tornou-se o poeta mais admirado da jovem geração. Antes de publicá-la, já se consagrara com suas primeiras odes (An Meine Freund, de 1747).


Cérbero: Na mitologia grega, era um monstruoso cão de três cabeças que guardava a entrada do mundo inferior, o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. Cérbero era filho de Tifão e Equidna, irmão de Ortros e da Hidra de Lerna.

Fio de Ariadne: assim chamado devido a lenda de Ariadne, é o termo usado para descrever a resolução de um problema que se pode proceder de diversas maneiras óbvias (como exemplo: um labirinto físico, um quebra-cabeça de lógica ou um dilema ético), através de uma aplicação exaustiva da lógica por todos os meios disponíveis. É o método singular utilizado que permite seguir completamente pelo vestígios das pistas ou assimilar gradativo e seguidamente uma série de verdades encontradas em um evento inesperado, ordenando a pesquisa, até que atinja um ponto de vista final desejado. Este processo pode assumir o método de um registro mental, uma marcação física ou mesmo um debate filosófico.

Dédalo: Na mitologia grega, é um personagem natural de Atenas e descendente de Erecteu. Notável arquitecto, pai de Ícaro e inventor, cuja obra mais famosa é o labirinto que construiu para o rei Minos, de Creta, aprisionar o Minotauro, monstro filho de sua mulher.

Ícaro, na mitologia grega, era o filho de Dédalo e é comumente conhecido pela sua tentativa de deixar Creta voando – tentativa frustrada em uma queda que culminou na sua morte nas águas do mar Egeu, mais propriamente na parte conhecida como mar Icário.

Dante Alighieri: Foi um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta.

Públio Virgílio Maro ou Marão: Foi um poeta romano clássico, autor de três grandes obras da literatura latina, as Éclogas, as Geórgicas, e a Eneida. Uma série de poemas menores, contidos na Appendix vergiliana, são por vezes atribuídos a ele.

Óbolo: Foi uma unidade de massa na Grécia Antiga correspondente a cerca de 0,5 grama. Como esses pesos eram usados para medir a quantidade de metal precioso numa moeda, óbolo também se tornou uma moeda de menor valor, correspondendo à sexta parte de uma dracma, pesando 0,5 grama de prata.

Caronte: Na mitologia grega, Caronte (em grego: Χάρων, transl.: Chárōn) é o barqueiro do Hades, que carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos.

Odisseu ou Ulisses: Foi, na mitologia grega e na mitologia romana um personagem da Ilíada e da Odisseia, de Homero. É a personagem principal dessa última obra, e uma figura à parte na narrativa da Guerra de Troia.

Luís Vaz de Camões foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza.


Aleister Crowley, ou Edward Alexander Crowley: Foi um membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e influente ocultista britânico, responsável pela fundação da doutrina Thelema. Ele foi o co-fundador da A∴A∴ e mais tarde um líder da O.T.O..

Miguel de Cervantes Saavedra: Foi um romancista, dramaturgo e poeta castelhano. A sua obra-prima, Dom Quixote, muitas vezes considerada o primeiro romance moderno, é um clássico da literatura ocidental e é regularmente considerada um dos melhores romances já escritos.

Jack, o Estripador é o pseudônimo mais conhecido para designar um famoso assassino em série não identificado que atuou na periferia de Whitechapel, distrito de Londres, e arredores em 1888.


Lúcifer é a tradução da Bíblia em Latim de Luciferum para a palavra em hebraico לוציפר em Isaiah 14:12.[1] Esta palavra, transliterada hêlêl[1] ou heylel,[2] aparece apenas uma vez na Bíblia Hebraica[1] e de acordo com a influência da versão do Rei Jaime significa "o brilhante, estrela da manhã, Lúcifer".[2] A palavra Lúcifer provém da Vulgata,[3][4] que traduz לוציפר como lúcifer, Isaías , significando "a estrela da manhã, o planeta Vênus", ou, como um adjetivo, "portador da luz". O Septuaginta traduz הֵילֵל para grego como ἑωσφόρο (heōsphoros), um nome, literalmente "o que traz o anoitecer", para a estrela da manhã.

Raul Santos Seixas: Foi um cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco Beleza".

Enola Gay: Foi o nome dado a um bombardeiro B-29 em homenagem a Enola Gay Tibbets, a mãe do piloto da aeronave, o coronel Paul Tibbets, que selecionou o avião enquanto ele ainda estava na linha de montagem.

Amoxicilina: É uma Penicilina semi sintética de espectro moderado utilizado no tratamento de infeções bacterianas causadas por microorganismos susceptíveis. Melhor absorvida por via oral do que a ampicilina. Atua na membrana bacteriana Wikipédia

Fontes: Wikipedia.
 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
791
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
24 pontos
10
3
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 17/09/2018 18:07  Atualizado: 17/09/2018 18:07
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: Overdose
Gyl
Parecia-me que virava churrasco o piloto do Enola Gay
Empalado até o talo numa vara de mais de metro de bambu.

Por fim acordei todo suado e percebi que estava no meu quarto.
Havia três dias que eu estava adoentado, gripado, constipado.
Rezei um Pai-nosso, benzi-me dez vezes e rezei dez aves-marias.
Depois foi que eu percebi que tinha errado as dosagens de Amoxilina.


Sinistro, meu amigo!
Confesso que adorei essa overdose de amoxilina!
Beijos!
Janna


Enviado por Tópico
João Marino Delize
Publicado: 17/09/2018 20:36  Atualizado: 17/09/2018 20:36
Membro de honra
Usuário desde: 29/01/2008
Localidade: Maringá-
Mensagens: 1976
 Re: Overdose
Fiquei imaginando se tivesse tomados outras drogas o que aconteceria, mas o que eu gostei mesmo foi do seu conhecimento da literatura mundial. Pouco eu conheço pela minha preguiça de ler muito.

Parabéns!


Enviado por Tópico
Upanhaca
Publicado: 17/09/2018 22:53  Atualizado: 17/09/2018 22:53
Usuário desde: 21/01/2015
Localidade: Lisboa/loures
Mensagens: 8483
 Re: Overdose
Eis o lado obscuro da consciência humana, que menospreza o mal das drogas.

Belo texto pra pensar a vida.

Abraço!
upanhaca


Enviado por Tópico
Maryjun
Publicado: 18/09/2018 02:36  Atualizado: 18/09/2018 02:36
Membro de honra
Usuário desde: 30/01/2014
Localidade: São Paulo
Mensagens: 7163
 Re: Overdose
Nossa, pareceu-me, mas um pesadelo..
Forte! Parabéns, pela inspiração.

Um abraço,
Mary Jun


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/09/2018 20:25  Atualizado: 20/09/2018 20:25
 Re: Overdose
.
Não é fácil tratar um tema que já foi tantas vezes glosado em verso: a descrição de um sonho do qual se acorda.
Na minha opinião, deste a volta com distinção: o texto evolui no sentido do desvario e do surreal, terminando com uma nota de humor.
Parabéns, Gyl!