porque os seus olhos me metiam medo
e as noites pareciam mais longas
eu construía navios de nuvens na memória
que me levavam a portos distantes
mas as viagens nunca chegavam ao fim
meu coração clandestino batia forte e sem rumo
eu já não tinha pátria
e poucas não foram as vezes em que esqueci
meu próprio nome
quando amanhecia nem sempre conseguia identificar
meu rosto no retângulo do espelho
e só me reconhecia mesmo
através da tatuagem no meu braço esquerdo
porque os seus olhos guardavam mapas
que só eu podia enxergar
mas temia imenso
a lembrança daquele olhos
que decretaram esta sentença
até o resto dos meus dias
: devo continuar assim
de braço com a minha loucura
devo continuar sempre assim
conforme a direção dos ventos
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júlio
Júlio Saraiva