Poemas -> Reflexão : 

o condenado

 

porque os seus olhos me metiam medo

e as noites pareciam mais longas

eu construía navios de nuvens na memória

que me levavam a portos distantes

mas as viagens nunca chegavam ao fim


meu coração clandestino batia forte e sem rumo

eu já não tinha pátria

e poucas não foram as vezes em que esqueci

meu próprio nome


quando amanhecia nem sempre conseguia identificar

meu rosto no retângulo do espelho

e só me reconhecia mesmo

através da tatuagem no meu braço esquerdo


porque os seus olhos guardavam mapas

que só eu podia enxergar

mas temia imenso

a lembrança daquele olhos

que decretaram esta sentença

até o resto dos meus dias

: devo continuar assim

de braço com a minha loucura

devo continuar sempre assim

conforme a direção dos ventos

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júlio


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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