O meu cais é o fundo do mar,
navego
à bolina do vento,
assim queiram o mastro e a vela.
Tendo o futuro por proa,
sei
que a bordo vai todo o pergaminho
do que me recordo,
tendo as ondas por caminho.
Lições de aritmética somando derrotas,
ocasionais vitórias,
raramente tomando notas,
só
memórias.
Esculturas de areia,
os castelos de cartas
de marear,
as estações das sementeiras semeando os ventos,
fartas sereias,
Tudo o que me resta, de punho cerrado,
com o tempero da maresia,
imagino.
Miro as dores do albatroz na faina,
o cruzeiro do sul,
e quando o céu no seu pino dá-me o norte,
envelheço.
Vou ancorar
no fundo do mar.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.