Devo descrever uma paisagem que vi há muito tempo, em seus termos, na nossa boa e velha Terra. Talvez ela seja um belo modo de ilustrar aquilo que pretendo dizer aqui, e sirva, por agora, como um gatilho para despertar sua intuição mais profunda. Nem toda linguagem e comunicação são feitas por meio das palavras.
Eu caminhava por um deserto de areias muito finas. Eu não era um estranho ali, conhecia aquele lugar, e já passara por ali mais de dezenas de vezes. Mas, naquele dia em particular, houvera uma conjunção de fatores que favoreciam uma observação mais profunda.
O ar de um deserto geralmente é muito seco, e você tem pouco campo de visão, o ar torna-se muito pesado, e lhe dá uma perspectiva aérea forçada. As dunas também, geralmente muito altas neste deserto em particular, contribuem para impedir uma visão mais ampla.
Mas neste dia, havia uma região mais plana e alta, e o ar, por um motivo que entendi depois, não estava seco. Isso tudo junto, abriu aos meus olhos, um horizonte amplo e belo, que nunca pensei em contemplar naquele lugar.
Parei por uns instantes, olhando aquela paisagem, bastante maravilhado. Eu sentia que algo estava para acontecer. Eu tinha sonhado em algumas noites anteriores que eu tinha morrido, um sono recorrente, mas bastante real. Senti, de repente, que seria ali, naquela hora e naquele lugar que isso iria acontecer. Naquela vida em particular, eu não tinha medo da morte. A vida no deserto é bastante árdua, eu já tinha perdido seres importantes na minha vida, e eu era bastante religioso. Além de ter tido contato com sábios de outras regiões, principalmente do Egito, numa época em que podemos dizer que, a magia existia com maior presença neste mundo, e fizeram coisas maravilhosas, que deixariam poucas dúvidas quanto à sobrevivência além da morte.
Eu me ajoelhei no chão, porque já sentia vertigens e não conseguia me equilibrar, e pensei em Alá, embora eu carregasse a ideia de outros deuses e o respeito por eles também. Isso não era incomum naquela época. Eu era um homem justo e bom acima de tudo, e não temia nada obscuro. Mas, toda esta história, foi para dizer, que a última coisa que vi, com os olhos da carne neste mundo, foi a fina poeira do deserto, elevada por um vento muito suave, percorrer-me e envolver-me enquanto eu caía. Milhões, talvez, bilhões de diminutos cristais brilhantes a subir e a se revolverem no ar...
Parece poético, mas foi assim que aconteceu. Entendi o porquê depois, mas isso é material para outra história, se eu achar conveniente e útil contá-la.
Quero apenas que gravem a ideia dos finos grânulos de poeira e areia, junto às moléculas de ar e vento, revolverem-se juntos.
Podemos comparar essa ideia, a noção de interação de Consciências. Só a influencia do ar e da areia poderiam causar aquele efeito e aquela visão em particular, diante de mim.
Então, tento simplificar de um modo que possam absorver, que a criação material de sua realidade, seu planeta, seu universo, é isso, mesmo, influências recíprocas de Consciências.
Algumas pessoas se escandalizam com isso. Não as culpo, e isso faz parte do processo de conhecimento e de aceitação. Um pensador importante de sua gente, claro, como sempre muito bem inspirado por seus gênios, costumava pregar que novas verdades atravessam três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada, no segundo ela é rejeitada com violência, para só no terceiro ser aceita como evidente por si mesma. Isso tem provado ser verdade, bem antes dele citar essas frases, e depois de tê-las citado.
Preciso dizer também que essa ideia, de construção da realidade através da consciência, não é contemporânea. Ela tem sido repetida ao longo da história humana, seja no campo da religião, da filosofia, e bem recentemente, da ciência. Não estamos aqui trazendo conceitos novos, e nem originais.
Costumo dizer que, tudo aquilo que se vê no mundo, já foi visto antes por uma Consciência, e que na verdade você não vê de fato, mas está na verdade, "lendo", ou "vendo", memórias ancestrais de um povo há muito passado. Em seus termos de tempo, é claro. Porque de uma forma bem verdadeira, essa gente ainda existe, e ainda está construindo a realidade delas, como vocês constroem as suas. Às vezes, vocês se encontram por aí, numa, digamos, "fenda entre as realidades", e isso é causa para muitas lendas e especulações.
Algumas pessoas também questionam o fato de que, se tudo que existe é porque fora criado ou contemplado por uma Consciência, como se explicaria as profundezas da Terras, os vulcões ou a lava quente, ou o universo profundo.
Bem, é necessário entender, que há consciência em tudo. E como já falamos, o que chamam de átomos são consciências. Consciências diferentes das suas, é claro, mas consciências. Assim como a minha, é diferente das de vocês. Mas isso não nos separa, nos une, porque só assim damos movimento e fluxo à verdadeira "realidade". A verdadeira natureza da realidade é mental. Alguns acham difícil de acreditar. Mas o simples ato de dar um passo, ficar parado, sentar-se, exige um pensamento ou ato mental, para que se concretize.
A presença do átomo, digamos assim, o simples "pensamento" dele você interpreta como uma parede. Se você, simplesmente ficasse parado no meio de sua rua, você já estaria influenciando o universo inteiro, isso porque ninguém mais poderia ficar parado no mesmo lugar que você. Isso, claro, para quem interpreta a realidade da mesma maneira que vocês.
Uma vez que você passe a interpretar de maneira diversa a realidade, você, por assim dizer, passa a outro "estágio" ou palco. Isso significa que você estará "apartado" daqueles que interpretam a realidade de maneira diferente. Porquê, enquanto eles "veem" uma coisa, você "vê" outra. Mas, claro que não há separação verdadeira, vez que tudo está conectado, essa mudança de "palco" é que dá movimento ao universo. Não apenas ao seu universo, mas ao universo "verdadeiro", geral.
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