Sábado à noite, toda feliz e animada, ela embrulhou seu primeiro amor numa caixinha de palavras florescentes, pôs o melhor vestido, enfeitou o cabelo, maquiou-se como uma barbie que acaba de sair da loja e vestiu aquela calcinha com qual ele lhe vira uma vez, de soslaio, pela fresta da porta, quando ela se trocava no quarto.
Todos lhe diziam que formavam um lindo casal e que foram feitos um para o outro.
Quando ele chegou, ela estava radiante a esperá-lo e, nesta noite, deu-lhe dois belos presentes: a caixinha com cândido amor e a boceta virgem que ele tanto queria.
...
Um tempo depois, com o rosto molhado de lágrimas, embrulhou a dor e a angústia numa caixinha de silêncios entenegrecidos, não se vestiu como boneca, não enfeitou o cabelo nem colocou a calcinha que ele adorava e, daquela boneca enfeitada de outrora, parecia uma lesma pisada, sem falar da icterícia em febre, e da gonorréia que havia descoberto que pegou com o cara.
Quando ele chegou deu-lhe o presente silente, correram-se-lhe ao rosto molhado mais algumas lágrimas, romperam-se-lhe algumas veias do coração, virou o corpo esquálido, agora aleijado pela pingadeira gonorreica e, após despedi-lo, foi-se lamentar em seu quarto.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)