Perto do morro alto
Tem uma fonte baixa
Que ressoa palavras
Quando beija a rocha.
Os peixes prateados
No líquido cor-de-cobre
Dançam lutas minerais
No segredo que envolve
O revólver e o gatilho
O Rolls Royce do mendigo
A foice dentada e cega
Da alimália que vegeta.
Tem poder na juventude
Que abarca em velhos cais
Que afronta temporais
Tem poder e tem virtude.
Amanhece na caverna
Dos teus olhos duas Luas
Escuras.
Anoitece no vale das espumas
E no v do ventre um segredo
Espera ser descoberto.
Chama acesa em boca
Aberta
Rama seca em terras
Vermelhas
Em casas sem telhas
Adormece o paquiderme.
Lisa e fina a fina pele
Que cobre o corpo
Exposto
Na pelúcia veludosa
E leve de uma rosa
Morosa e breve
Que só desabrocha
Em madrugada
"Desestreladas".
Abra a porta
Da sua casa
Para a palavra
Fazer morada.
Respire o afeto
Do alfabeto
Que te ofereço
E o preço
Do pão
E o vinho
É a minha carne.
Tem poema pelo teto
Poesia pelo chão
Música assada no fogão
E o portão está aberto.
Seja lua ou seja dia
Seja sol ou seja noite
Que seja a língua
O seu açoite
E que seu ventre
Feito de pó
Seja só pó e poesia.
Gyl Ferrys