Poemas : 

ilha

 




corpo em curva
braços longilíneos
és mulher de lava e de fogo.
de branco, aurora
de azul, mundo

entre bruma
e renda de espuma
dormes com o mar.
és amante dos rios
e do calado dos navios

de colo esmalte fulvo,
de maré prenhe
teu ventre redondo
une a terra à curva do céu
parindo a rota da proa

além-mar, terra à vista!
és umbigo.
nó d`amarra no cais,
onde a gaivota anuncia
o berço do mar

és promessa:
de vela
de brisa e de manhã.
mulher que borda a terra
da barca que nasce no mar








Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 14/07/2018 17:41  Atualizado: 14/07/2018 17:41
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16148
 Re: ilha
Aqui não é ilha de boa poesia: é continente! Destaco esta parte que me encheu os olhos e o coração:
"de colo esmalte fulvo,
de maré prenhe
teu ventre redondo
une a terra à curva do céu
parindo a rota da proa

além-mar, terra à vista! "

Um abraço que te "ilhe", Zita!

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 14/07/2018 22:53  Atualizado: 14/07/2018 22:53
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: ilha
Zita
Parabéns! Simplesmente perfeito!
Levei!

Janna

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 14/08/2018 09:21  Atualizado: 15/08/2018 21:26
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: ilha
Todos somos
parte
ilha.

Sei que tens uma relação simbiótica com um desses "pedaços de terra cercado de água por todos os lados".
Sei também teres uma relação com as palavras, como poucas.
O momento do (teu) espanto para este poema não o posso saber, mas poderia ser (imagino) numa viagem, num momento de afastamento e saudade... Ou não.
Ou uma reflexão que procurasses num exercício poético, te valesses dalgo que te é caro.
Que não deixas jamais de dar valor.
Este, como muitos outros teus, é poema de livro, antologia talvez.
Saliento a segunda estrofe.
Aquele "...dormes com o mar./ és amante dos rios..." torna a personificação a um nível mais concreto e menos fantasioso, dando-lhe um cariz de humana/pecadora de salientar.
Sem água doce não haveria vida nas ilhas, rodeadas de mar.
A linguagem sempre cuidada.
A tendência para o leitor procurar duplos sentidos.
A beleza das imagens.
Aprendi "...o calado dos navios...".

Obrigado pela partilha.

Bj