Poemas : 

Calares (Antonio Machado)

 
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Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão

Gosto de ver-los pintar-se
de sol e grená, voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se…

Nunca persegui a glória

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar…

Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…

Golpe a golpe, verso a verso…

Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe viram chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.


Antonio Machado (1875-1939), nasceu em 26 de julho de 1875 em Sevilha e aos oito anos mudou-se para Madrid. Poeta e prosista, pertenceu ao movimento literário conhecido como “geração de 98”. Provavelmente, ainda é o poeta de sua época mais lido.
Em 1927 foi eleito membro da Real Academia Española. Durante os anos vinte e trinta, escreveu teatro em companhia de seu irmão, também poeta, Manuel, estreando várias obras entre as quais se destacam: La Lola se va a los puertos, de 1929 e La Duquesa de Benameji, de 1931. Quando estourou a Guerra Civil espanhola, estava em Madrid. Posteriormente mudou-se para Valencia e Barcelona, e em janeiro de 1939 exilou-se em Colliure, França, onde morreu em 22 de fevereiro do mesmo ano.

Poema traduzido por Maria Teresa Almeida Pina.
Fonte: http://blogs.utopia.org.br/poesialati ... ografias/antonio-machado/

Fotografia: Pongua Falls, Vietnam (autoria desconhecida)
 
Autor
AjAraujo
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