"O espaço entre um poema e outro
é medido pelo comprimento de ondas
que percorrem o vácuo da inspiração
ausente"
[...]
Na penumbra do sorriso
a lágrima escorrendo pelo ventre,
ao vislumbrar o paraíso
ancestral, remanescente
os dedos de dunas empoeirados
levados pelo vento,
destreza desajeitada
para poetizar o sentimento
Mas a chuva chegou!
Nuvens carregadas de versos,
acinzentando a massa
que com maestria serve as letras,
simboliza alguns momentos
coisas de uma década e meia,
repousado no canto da janela
a frente de uma paisagem inteira
apreciando o som inaudível
das colônias milenares
competindo espaço com faróis,
combustíveis e mil andares
o vale amazônido que me acolheu
a água escura a qual bebi,
o sonho de Engenharia
que para Medicina transferi
os prazeres e as descobertas
do jovem recém-desmamado,
na busca incessante dos porquês,
querer ser adulto em tempo arrojado
Vieira Alves: um alento,
Parque Dez: diversão,
Coroado: educação,
Centro: aventura,
Ponta Negra: rock n' roll
La Belle Époque revelada,
percorrida nas rodas
de um quinhentos e vinte e cinco,
e de cinco em cinco
a vontade de cantar
Ao passar pela estação T1,
a ansiedade aumentava
novas notas a aprender,
canções a compor,
inspirações a todo vapor
Tarumã era o recinto,
uma cabine de estudo
e de estúdio,
os dedos desenhados em grafite
pelo lápis e pelas seis cordas
Paixões, saudades,
poesias vazias,
cheiros e bebidas,
perfumes, fantasias
Lá também descobri
que não tinha cacife pra doutor,
é uma vida que exige muita retidão,
difícil pra quem andava na contramão
[...]
Não parei pra respirar,
só agora pude transcrever,
para agradecer o acolhimento
da capital que pretendo rever
Os amigos que lá deixei,
a Universidade e o apê,
a Zona Franca que percorri a pé
do amanhecer ao anoitecer
By Renato Braga
Breve lembrança do tempo em que morei na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, no auge de minha juventude.