Poemas -> Fantasia : 

Lembrança alada (Mia Couto)

 
Open in new window
Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante

E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.

Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.


Mia Couto, escritor moçambicano, Lembrança Alada, Em ‘Idades Cidades Divindades, 2007’.
 
Autor
AjAraujo
Autor
 
Texto
Data
Leituras
726
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.