Ode à mamãe
I. Teus sentidos
Doce murmúrio aflora
Em teus secos lábios
A canção que outrora
Balançou tantos berços
Oras em profundo silêncio
Imagem que lembra o filho
Tomado pelo mundo cruel,
Tua eterna criança, teu mel
Em tuas mãos delicadas,
Surgem implacáveis marcas,
Onde passearam mil afagos
E jorraram carícias brandas
Mãos calejadas, vívidas,
Na razão de criar, cálidas
Levam sempre, calor e alento
Na fria madrugada de inverno
Em teus olhos cristalinos,
A expressão terna e forte,
Nas telas que nos labirintos
De minh´alma, tu pintaste
Foram lágrimas vertidas
Por dores e angústias,
Rolaram e deixaram sulco
Para sempre em teu rosto
Em teus ouvidos atentos,
O hábito de escutar o choro,
À noite, em gritos e soluços
Alertavam a cólica, o enjoo
Terna, paciente, ao colo levas,
Abnegada e radiante presença,
E ninas, proteges, cuidas,
Amamentas, dás segurança...
Em teus braços, seguro porto.
Abre-se a fortaleza secreta,
Suave jeito de tua acolhida
Para que teu indefeso rebento
Supere o medo de vencer
Ignorados caminhos, destinos
E, por fim, a tomar de teus braços
A própria razão de ser, de viver...
AjAraujo, o poeta humanista, texto escrito em 1979, nos tempos da faculdade com saudades de casa e da minha querida mamãe Eutália.