“À barca, à barca, Houlá!
Que temos gentil maré!”
E vós, por que rios navegais?
Em cada um dos rios em que navego
o meu barco dorme sonos tranquilos, sem sobressaltos.
Em sigilo vou, só por ir, ao sabor do destino das correntes
para estar, só por estar, no devir guardado
de um futuro clandestino que me pertence.
“À barca, à barca segura,
barca bem guarnecida,
à barca à barca da vida”
E vós o que guardais?
O que gosto de guardar!
As horas mais simples num simples segredo
que trago das margens obscuras da cidade,
para junto das colunas do cais.
“À barca, à barca mortais,
barca bem guarnecida
à barca à barca da vida”
E vindes só?
Na ideia que trazeis?
Quando tendes marcada a ida?
Ora, ora!
O que gosto de trazer quando não sei da partida!
Nada existe de mais banal que as coisas banais.
Venho sempre comigo mesmo e no bolso trago
os deuses do inferno,
os paraísos do diabo.