Poemas : 

Meu bem

 


Meu bem, chegará o dia do asco

Teu sorrisinho de testa franzida
E essas mãos
Essas mãos
uma diferente da outra

As unhas grandes coladas com fita vão quebrar
E não tocarás mais
Muito menos em mim
Com sua mão direita.

O teu grande silêncio esquivo
Vai gritar
Em paz
Amém

A mulher masculina
continuará ao teu lado
Na alegria e na tristeza
Teu dedo anelar amarrado ao dela
Por um forte fio de tédio.

Meu bem, chegará o dia do asco.


o mais importante não se conta, se constrói com o não dito, com o subentendido, a alusão”. (Piglia)[/color][/color]

 
Autor
Maria Verde
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/06/2018 16:00  Atualizado: 13/06/2018 16:00
 Re: Meu bem
.
Há muito que não a via por aqui.
Mas, para além de saudar o seu regresso, deixe-me dizer algo sobre o seu poema.
Perturbante, esse ambiente que criou.
Um "eu" solta toda a sua amargura sobre um "tu" que o traiu. À primeira vista, um enredo amoroso que terá corrido mal.
No entanto, algumas leituras depois, quando as palavras se libertam da primeira impressão, dou por mim a reparar em alusões que me soam religiosas: o uso do futuro (como nos mandamentos), a "mão direita", obviamente o consentimento litúrgico do "amém", a promessa do acompanhamento "na alegria e na tristeza"...
Talvez não tenha sido a sua intenção, mas li uma revolta contra a ordem supostamente espiritual do mundo, que nos sorri hipocritamente na sua falsidade de pechisbeque (muito boa, a metáfora das "unhas grandes coladas com fita").
Um abraço e continue por cá.