"...não sei..." é um bom fim (ou eutanásia) para esta crónica.
Estivemos à beira de andar à pêra.
A minha posição:
Eutanásia vem do grego eu+thanatos, ou boa morte.
Fartava-me de gozar com o Luís, sem nunca o ter conhecido cá ou lá nas inglaterras, do raio do rapaz ser Luís Eutanásia (ou seria Eutanásio). Não era mau jogador.
Não sou a favor da morte em nenhum caso. Prezo a vida, o único milagre que reconheço, completamente explicável, descritível, mas abençoado. Tudo o que não sei explicar, culpo-me. Objecto do ignorante que sei ser em muito.
Sei que a não-vida é isso. Creio, talvez seja mais socialmente correcto. Respeito todos os outros saberes e credos.
Como tenho de conviver comigo mesmo (lá está, viver) tenho a convicção cada vez mais aprofundada de que um dos males de nós, humanos, é o pensamento abstrato. É esse que cria os mitos que nos sustenta enquanto ditadores da natureza.
Acho, que o medo profundo da dor e o apego aos entes queridos moribundos, levou-nos em tempos ancestrais à construção das primeiras religiões e dogmas a elas associadas.
O pós-morte, seguindo esta linha de pensamento, é não-vida. Acaba esta benção e a terra enche-nos as entranhas e com a devida ordem natural.
Então, não haverá alívio. Nem punição (a pena de morte para mim é abominável porque o sacana devia era sofrer horrores, devia ser implementado e legalizado um regime de torturas englobadas nas molduras penais).
As religiões monoteístas actuais condenam o suicídio impedindo a entrada no céu e negando cerimónia religiosa. O valor da vida, que defendem sem limites, sendo elas religiões de amor e caridade torna-as, nestes assuntos (!?) austeras, inflexíveis, frias, quase demoníacas.
Suicídio é o acto de maior coragem e cobardia porque quebram essa barreira do desconhecido que todos tememos e desistem (lá aparece a cobardia sob forma de resignação).
O que é viver?
Respirar apenas? Enquanto o raio do coração bate, os rins filtram, o fígado metaboliza, o anús evacua...
E estar a fazer isto tudo agarrado a uma cama, completamente dependente da família (pai, filha...) para comer, mudar a fralda, beber um gole de água da garrafa furada na tampa com palhinha que não conseguimos ou sabemos pôr na boca? Com as adoráveis úlceras de decúbito, as dores de tão crónicas que o deixam de ser, o desgosto de ter (ou não) vivido uma vida activa e rica de experiências?
Sem a mínima hipótese de cura ou recuperação?
Não será isto o inferno?
Ainda assim, a lei que foi sujeita a parlamento visou, sobretudo, descriminalizar os profissionais de saúde que amiúde veem casos destes, compadem-se do sofrimento, seguem o desejo consciente e são do pobre e colaboram.
Como não?
Descobertos têm as custas e a indignidade dum tribunal preso a uma lei velha, desumana e imoral (tão moral que se desmoraliza). E pagam com uma prisão que acresce as inevitáveis dúvidas existenciais e crises de consciência.
Isto merecia era um referendo.
Além disso iria-se criar condições mais adequadas ao acto.
Atenção, as propostas dos partidos a favor, todas, envolviam entraves aos proponentes, condições específicas e lógicas (um doente descompensado emocional e psicologicamente fica logo eliminado, a avaliação é feita por uma junta médica) e regulava as acções gerais.
Aparte
Não sabes escrever mal.
O assunto é complexo e polémico.
Desculpa ter deixado tão patente a minha posição.
Obrigado por teres publicado.
Viva a liberdade de expressão!
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.
Este texto foi um comentário a uma crónica de Ombuto.
O tema diz-me muito e decidi publicar