Há que teimar em trazer à liça um problema de suma importância para cada um de nós, tanto mais importante quanto mais inócuo se faz sentir, a violação da privacidade.
Não é por acaso que a privacidade é tão mal entendida e tão mal tratada.
Estou a pensar na segurança e nos interesses policiais. Limitar-me-ei a considerar que a minha privacidade é um reduto interdito, sobretudo, às polícias. Diria até que é o oposto de policiamento, sabendo nós que as "polícias" não são apenas os agentes de segurança e da ordem pública investidos da autoridade do Estado.
A privacidade é incompatível com os "guardiões", legisladores do medo, corruptos que o são porque podem, sem medo e sem vergonha, guardiões dos privilégios.
E não estou a pensar na criminalidade, que deve ser prevenida e combatida, sobretudo a alta criminalidade do venal.
Estou a pensar na saúde mental, na liberdade de pensamento, de criatividade e de significado, do significado atingido livremente, não do significado infiltrado, hospedado à força no cardápio das nossas alternativas avassaladas.
Esta sensação de falta de mundo e de espaço para respirar outro ar que não seja o da vigilância, sobretudo quando perpetrada pelos alvos inelutáveis do nosso ódio, acaba por viciar também os comportamentos, sobretudo os de maior visibilidade, que se tornam à medida, ou seja, o próprio processo de invasão e controlo da privacidade subverte-se ao ponto de o privado ser também uma máscara. E cada vez se torna mais pública e convencional a ideia de que o que é visível pode ser a melhor forma de invisibilidade.
Cada vez mais, as iludências aparudem!!!
Até porque quem quer ser olhado do modo que os outros escolhem? Ou gosta do modo como é olhado, ou de quem olha/observa, independentemente da finalidade?
Temos o direito de odiar, recusar e rejeitar o "mau olhado".
De resto, no inferno da privacidade só entram almas danadas e não se constroem paraísos onde possa entrar quem não se quer.