Desperto pela madrugada.
Vejo vestígios noturnos
E, assim, surge do nada
A deusa dos dedos rosados
Descortinando a barra do dia.
Um mundo de todas as cores
Surge perante os meus olhos.
Orquestra de pássaros cantores
Anuncia a chegada doutra manhã.
Saio do mundo de Morpheu. Acordo.
Lavo o rosto, escovo dentes,
Visto calça, calço coturnos
E laço o cadarço encardido.
No peito um aperto sinto.
Desperto e aperto o cinto.
Pego a primeira condução.
Pela janela vejo carros sonsos
num indo e vindo infinito.
A cidade não tem mais coloração
Tudo é daltônico e triste.
Parece que só o tempo existe:
Tempo para isso, mil compromissos,
Tempo para acordar, café, almoço...
Pessoas passam epidemia de autismo.
Não interagem, não se veem no olhar
Alheio...
Parecem que já são assim desde o seio.
Sinto que falta algo, que falta tudo,
Que em qualquer lugar do mundo
Vou morrer sozinho, esquecido...
Um corpo caído numa rua qualquer...
Faço um muxoxo, solto um assobio.
Chego na entrada da fábrica e bato
Meu cartão com pontualidade britânica.
Ah! Que saudades da minha infância
Quando o amor que eu tinha era pela
Filha da vizinha, pelo meus irmãos e meus pais!
Aonde estão meus irmãos?
Para onde foi o meu pai?
Para o país desconhecido
Que ninguém volta mais?
Quanto tempo terei minha mãe?
Preciso de um tempo...
Preciso de um Templo
Tempo: "Templo de ninguém
Onde uma sibila druida
Ressuscita almas do além..."
Tic-tac...
Tic-tac...
Tic...
Tac...
Big, Big...
Big-Bang!
Gyl Ferrys