Deus serás capaz de perdoar - me por eu não conseguir confiar mais no destino. Por não acreditar mais que tudo vai acabar bem, que todas as histórias têm um final feliz. Eu tenho estado este tempo todo tentando falar contigo, mas parece que não me ouves , quero não acreditar na tua existência , pois sinto o tempo todo que a ideia de um ser superior é a manifestação do medo de um ponto final, mas sabes eu posso não conseguir ver - te, ouvir - te ou sentir - te mas de alguma maneira estranha sei que me observas, que me acompanhas e que tens cuidado de mim, por isso espero que entendas, será que me perdoarias por fazer - te uma visita mais cedo do que o que estava planeado? Eu sinceramente não sabia ser possível essa sensação de ter vivido demasiado de estar cançado de viver, mas sim é isso que eu sinto, sinto que esta vida não tem nada mais para me dar, e quando penso na possibilidade de não estar cá amanhã, sinto um alívio tal e qual a de um recém nascido na primeira vez que encontra o colo da sua mãe. Mas será que me aceitarias da maneira que eu quero partir? Ou irias mesmo fechar - me a porta da tua casa? Se assim for, mais uma vez perdoa este teu filho ingrato , que é incapaz de ser grato pela dádiva que lhe foi dada. Acério escuta - me, sinto que o meu lugar não é aqui, sinto que nós não somos realmente capazes de criar ligações ou nos comprêender - mos uns aos outros, o nosso silêncio é consentimento e as nossas palavras ou atitudes são mais mortais que uma estaca, magoamo - nos constantemente uns aos outros, dizemos sempre as coisas que não queremos dizer, ou temos as atitudes que não queremos ter, porque é sempre mais facíl falhar que lutar. Li um dia já não me recordo onde " Deus dá as suas batalhas mais dificeis aos seus melhores soldados ", mas e se nós não quiser - mos lutar, se achar - mos que a própia causa está corrumpida, que esta é uma batalha perdida muito antes de começar, se nós fizes - te a tua imagem e somos deveras iguais, então eu estou certo porque, no pouco tempo que estive aqui eu aprendi que todos nós somos diferentes e todos nós somos iguais, mas nós procuramos a vida toda encontrar - mos quem somos, quando a nossa personalidade é definida e moldada por cada sítio, paisagem, música, ou pessoa que passou pela nossa existência somos uma compilação de tudo o que está a nossa volta, no passado, no presente e no futuro, pensando bem nisso até o acho poético, mas nisto tudo perdemo - nos no caminho e nunca mais somos capazes de nos encontrar - mos, pois estamos demasiado focados em nós mesmo somos egoistas, somos maus e crueis, como podes tu permitir isso? Por isso por uma última vez perdoa este filho ignorante que toma um suicidio literário na visão de um mundo que está demasiado longe para ficar, e hoje só quero fechar os olhos, e acordar num mundo onde vida não seja conceito associado a batalha ou lutar.
José Vieira