Depois que eu entendi que tudo estava perdido
O meu corpo foi a única coisa que restou
Bom dia, maldito e retorcido mundo cruel
No qual o meu corpo se acostumou.
Mais um dia me deparo nesta paisagem desconhecida
Que de alguma forma acabou por se tornar familiar
Quando entendo realmente aquilo que perdi
Aprendo a sobreviver com o pouco que restar.
Mas sinto - me envergonhado por ser forte
O suficiente para ainda estar vivo
Mas eu sei o que tenho a fazer
Para não esquecer a realização que idealizo.
Porque de qualquer outra maneira
Tudo se torna insuportável e agoniante
Enquanto vejo o mundo com olhos negros
Não há visão ténue de luz no caminho adiante.
E então rodeado por este mundo
Que não me deixou escolher as cicatrizes que me ofereceu
Ele abandona - me, deixando - me procurar o significado
De tudo o que ele me tirou e ao mesmo tempo me deu.
Estou tão perdido, o que é que eu faço?
Nem consigo fingir que estou vazio
Olá, Bom Dia , Sou eu,
Mundo, ensina - me mais uma vez, como é que eu sorrio?
Pois parece que nem a morte me respeita
Desde o dia em que me dei por vencido
Pensei que finalmente me iria sentir melhor
Se aceita - se que merecia a dor que ficou comigo.
Mas quando as lágrimas já não são solução
Ou os gritos já não ecoam pelas memórias
Eu acabo fingindo ser um herói num mundo imaginário
Pintado de cores, sonhos e histórias.
Porque na realidade a dor que me foi causada
Hoje não passa de um espetáculo de plateia
Onde lhes ofereço uma vénia de despedida
Enquanto a agonia de viver é a única coisa que faz a minha alma sentir - se cheia.
José Vieira