Já faz algum tempo que observo minhas mãos. Pálidas, serenas, frágeis. Contudo há algo de ameaçador nelas. Simultâneamente os vasos sanguíneos que sob a pele se distendem, os nervos que se contraem quando as fecho. Parece que são algo fora do corpo, como se estivessem á parte. Sinto toda a intensidade até mesmo quando os dedos repousam. Eles são grossos, médios e que por muitas vezes arranham as paredes deste cômodo frio, este quadrado no qual me finco.
Sempre que me olho no espelho, por vezes me vejo fora de ordem, como se todo ponto fosse de fuga, que conduz a vida ou a morte. Sensações das quais nunca sonhamos um dia viver. Não faço ideia de onde eu esteja neste momento, as lembranças, meus olhos parecem estar alheios, e estranhos ao destino. Que ás vezes, penso não serem passíveis de explicação ou entendimento, mas isso não importa, o que importa é a distância e a proximidade de cada um dos meus dedos.
Eles seguem juntos as palmas de minhas mãos, que variam sem uniformidade, me dizendo todo o tempo que sou destra, tão destra que por vezes creio ter apenas uma articulação, a direita. Deixando a esquerda numa infância abstrata.
Mas quando fecho as mãos, elas se transformam no meu sol particular. E quando as abro, as duas mãos irradiam luz, pois tudo cintila. É ai que percebo, que lá fora existe vida, e sonhos que me dizem que o mundo marcha! Intenso, infeso ás nossas dúvidas. Como se cada um fosse dono do seu próprio paraíso e do seu inferno. O que diferencia isto, é a forma de como encaramos o abrir e o fechar de nossas mãos.
- Por Donzela do Gelo
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