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Abril e nada II

 
ABRIL E NADA

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Uma vomitada basica para arejar o estomago. As esperanças foram enterradas profundamente. Não pode fazer nada, esta tremendo que nem vara verde. As pilhas acabaram - concluiu a releitura de "Retratos do Artista....." do seu amado mestre James Joyce. Sem vontade de corrigir o livro - uma raiva, uma inveja sem motivos, uma depressão filha da puta. bebe um café puro que comprou na Pasteleira vizinha no intuito de melhorar esse mal estar físico e psicológico. Não adiantou, ficou pior, mais cansado e desiludido. Para enganar o tempo leu um velho livro de Geografia.

Aos pouco vai corrigindo o livro, não tem pressa. Um peido que poderia virar merda. Estava ruim mesmo, somente se iludindo e enchendo linguiças até o fim de seus dias. Joyce chegava bêbado em casa para o desgosto do irmão mais novo Stanis que o quebrava no pau e a sofredora Nora Barnacle. A pobreza campeava o artista, mas Deus sempre lhe enviava uma ajuda nas horas mais precisas. E além do mais o homem era um gênio e como tal tinha seus baixos astrais. E ele Gibreia era um idiota, preguiçoso que não vivia nada de excêntrico. Enfurnou-se tal como uma ostra, não foi nem para frente e nem para trás. Não escreveu nada de relevante, apenas enchendo a cara de diamba e alcool - e vacilando - arriscando-se a pegar uma surra ou até mesmo morrer. Mas nada adiantava, o espirito maligno que o acompanhava levava-o para o buraco a qual se encontrava. Uma enorme carie comia um dente, a porta cédula vazia. As pessoas zombavam e o humilhava-o. E ai? O que esperar de um liso, fudido - nada.

Com o tempo abafado começou a suar - expelir seus fluidos negativos - Senhor até quando?

Um ônibus vazio vindo de centro seguido por uma moto-cargueira. A coceirada. A pixixitinha bonitinha indo buscar a filhota no jardim de infância. E sem saber o que escrever, lembrou-se dos personagens de Maugham, de Orvell e Miller andando atoa pelas ruas de Paris em busca de alimento, usando o mesmo expediente de Joyce de visitar os amigos na hora do almoço ou do jantar. Tanta coisa para escrever e se perdia na preguiça e na indolência. Um maluco baixinho e bandeiroso de boné vermelho, o sol esquentando e a escrita alimentando a esperança.

Dublin de Dedalus, do velho John Joyce. Um carroceiro puxando um jumento gordo pela estribeira. Seu Cardozo, o merceeiro da esquina sentado debaixo do telheiro em frente ao seu comercio batendo as mãos nas coxas. O autor de "Sol na Cabeça", carioca esta com a bola toda, fechou vários contratos com editoras estrangeiras, vai virar filme. E ele Gibreia nesse misereré todo com cincoenta centavos e uma terrível diarreia. Lembrando-se de Schulubin personagem de Soljenitzin em "Pavilhão dos Cancerosos" - sofrendo dos intestinos depois de vários anos descobriu-se que era câncer no reto e virou metástase. Sente-se cansado por não ter feito nada. Alegrou-se ao menos por ter escrito alguma coisa. Um Corsa preto sobe em alta velocidade. Como puderam matar friamente o seu Bi ou Mestre Slikin, o navegante solitário. Um homem simples do mar que vivia navegando pela costa norte e não fazia mal a ninguém. Ficou horas absortos nesse triste pensamento.

É hora de arribar. Os cadelas ladram na rua 23 e as lojas e os comércios estão fechando para o almoço.

Noite na Pensão Vince

Pensava seriamente em preterir o livro - não estava gostando, tinha muita coisa para reescrever era preferível escrever outro. "Villembratel/ Stepalmeirasplatz" empacou devido a esses excessos alcoólicos que o deixou muito eufórico e depois o prostrou numa profunda depressão. Sentindo-se inspirado por Joyce, mas não esquecia Balzac - a caganeira perdeu a força depois que a generosa Sra. Vince preparou-lhe uma papa rala de água de arroz. Reler também "Ulisses" na internet.

É hora de parar para refletir que novos caminho a seguir, não adianta querer atrelar os carros na frente dos bois - é ciente que escreve, que sabe escrever basta um pouco mais de pratica para ficar no ponto. Eliminar as palavras desnecessárias, ser mais objetivo. Esquecer essa coisa de querer ser famoso, de aparecer e de vender livros - o negocio é escrever.

Terá que reescrever o primeiro capitulo da Villembratel/Setepalmeirasplatz -uma descrição bem justa para situar melhor o leitor no ambiente. Apanhou o exemplar de "Pai Goriot" - mas o sono começou lhe perturbar e acabou rendendo-se aos caprichos de Morpheu.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/04/2018 08:45  Atualizado: 26/04/2018 08:45
 Re: Abril e nada II
🍎tanta coisa para escrever e se perdia na preguiça e na indolência

um abraço r.n.rodrigues