Poemas : 

O que tranquiliza é saber que essa gaiola não está trancada e eu posso sair a qualquer momento

 
Dessa vez sem música tocando
apenas a melodia da noite
e toda sua melancolia
e morcegos
e as vassouras varrendo a rua
e os carros que circulam
nesse horário.

Me tornei escravo do meu
próprio vazio,
refém da minha própria solidão,
moscas se afogavam
em um resto de vinho
dentro de uma garrafa
jogada atrás do sofá,
caminhei pela friagem
da madrugada
com meu pulmão cansado
de mais
mesmo eu sendo jovem demais,
me apeguei as fumaças
e venho fumando de mais,
sentindo o mais puro gosto
da morte
cada vez mais perto
e continuo dançando
desengonçado
não sentindo nada
entregue ao superficial,
sinto que a cor dos meus olhos
já devem estar opacos
e não quero olhar no espelho
para conferir.
Não me comovi com ela chorando
porque eu estava indo embora
no meio da noite,
por um momento
o cheiro de qualquer outra pessoa
me enjoava
e meu estomago estava embrulhado
e eu sentia que iria vomitar,
então me comovi com todo
esse chacoalhar dentro da minha cabeça,
vesti minhas roupas
e sai a caminho de casa
inconformado com a falta de sentido
em todas essas primaveras
e outonos
e nascimentos
e mortes,
eu me sentia vazio como as ruas
durante a madrugada
e o incomodo, pode se assemelhar
ao constante medo de ser assaltado,
respirei fundo quando abri
a porta
e não havia mais ninguém,
me alimentei de um resto de batata frita que estava em cima do fogão
desde a hora do almoço,
estavam murchas
como as flores
ressecadas por essa brisa fria
e solitária,
bebi um copo de suco de caju
e pensei em sumir
ou simplesmente acabar com tudo,
e meu corpo seria descoberto
algumas horas depois
e eu estaria fedendo
e seria todo um trabalho,
é incomodo saber que sentimentos
passam por minhas mãos como cartas
de baralho
e com isso posso fazer feridas
mas não sinto que posso ser ferido,
não vejo como
derrubar
o que já se sente no chão.


 
Autor
GabrielsChiarelli
 
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