Desde Minas, eu via tudo, sim, eu via... mas eu não dizia nada, pois a cena me cortava as palavras — aquela "água corria não se sabia para onde e para quê". Excessiva no tempo, a água corre, corria, correrá...
Quase uma pergunta... Mas por que me fiz essa pergunta aprisionada, tímida, carregada de dolorida incerteza? A hybris ou o excesso de tudo, é que me atormenta — excessivo, eu não tenho medida, eu não sou a medida das coisas. Tudo me parece supérfluo, excessivo. Não há fundo: melhor nem me olhar... Transbordo o meu olhar, e me perco — escoo sem onde, sem quê.
Que importa para onde as águas correm... correm para avolumar outros cursos de água, que sua vez correm também para onde... para o mar, para o nada? Correm, correm, e correm até perder, na dissolução total, a identidade, a referência de origem. Sorrio — o Nada é salgado, eu não sabia!
E o que me importa o mar? O que me importa o infinito? Por que há tanto sal... infinitos são os vales de lágrimas? Silêncio... De onde eu estou, todo ponto de chegada está no infinito! Prisão, doce prisão dos pensamentos meus... os vales são mesmo infinitos...
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[Desterro, 18 de abril de 2018 - 02h48]