Poemas : 

Destruindo uma mexerica

 
Eu me rastejo pela escuridão,
não faço questão de ascender as luzes
para escrever,
é melhor assim
me sinto aconchegado
pela melodia de algumas músicas
e meus ouvidos estão com calos
de tanto usar fones,
invejo o talento musical,
enxergo a verdadeira genialidade
em alguns,
em meio a tanta porcaria
existe a beleza
a classe
e eu poderia citar por nomes:
Tim Bernardes e seus longos cabelos loiros
e sua voz delicada, sempre acompanhada de um incrível instrumental,
Rex Orange e Mac demarco
não estão de fora,
nostálgicos e relaxantes,

eu poderia falar sobre outros
porém minha mãe abriu a porta
e cortou minha linha de pensamento,

eu poderia falar sobre qualquer coisa
e é o que eu quero fazer,
a poesia corre pelas minhas veias
e eu sinto uma necessidade
ensurdecedora de escrever,
talvez essa seja minha forma
de me sentir vivo,
cheio de inseguranças
me pergunto se um dia alcançarei
os grandes,
quando leio o que eu escrevo
me sinto tão frustrado,
nada é bom o suficiente,
não é algo que se possa comparar
com Bukowski ou Jhon Fante,

se bem que muitos
realmente só foram reconhecidos
depois de mortos,
será que o segredo está na morte?
Será que é por isso que ela está sempre nos meus pensamentos?
Será que serei considerado um grande poeta algum dia?
Ou, não passarei de um aspirante
a poeta
que sonhou
e fracassou
que sonhou
e teve a maioria dos seus sonhos
mortos
por sempre ter tido tudo,
mortos pelo tédio
de pensar no futuro,
será que não passarei de um lunático
que passou horas
em sua capsula
com suas inseguranças e incertezas
corroendo seu estômago,
escrevendo e detestando
tudo o que cria
e tudo ao seu redor?
Um lunático que prefere escrever
no escuro
e continua deixando, com que as palavras fluam
pois sabe que é necessário
caso eu queira dormir em paz,
caso eu queira uma folga dos
meus pensamentos
sem ter que engolir uma pílula
pequena e branca e poderosa,
em um quarto, quente,
em um sábado à tarde
e sentir que tudo a minha volta derretendo
e que minha mente
está em um vácuo mental
que chega a ser confortável.

Eu poderia escrever a noite inteira
mas não tenho determinação para isso,
então apenas me sento no escuro,
quando será que essa caneta
será meu ganha pão?
Não quero que minhas mãos
se encham de calos
e que meus olhos se encham
de pés de galinhas,
percebo ausência de sorrisos
nas minhas últimas fotos,
isso significa que falhei
em fugir do que se chama
de vida adulta
mas ela sempre estará ali,
como um grande muro
alto de mais para subir,
alto de mais para pular
e é o que muitos fazem,
mas sou covarde de mais
para tal façanha
ou corajoso de mais
em escolher sempre lutar
contra esses ratos
e suas pestes
que contaminam
todos ao meu redor,
não a um lugar para onde
olho
que eles não estejam lá
sorrateiros,
por trás de olhares vazios
e de uma rotina torturante,
as estrelas estão perdendo
o brilho a cada noite,
a sensação de um beijo
não dura mais que uma noite,
o calor de um abraço
faz falta ao me deitar,
nada disso se encontra em salas
mórbidas, esfumaçadas
com garrafas vazias
e cinzas pelo chão,
então o calor do sol
no rosto
ajuda um pouco
a continuar
pois não a outra opção
a não ser, simplesmente
continuar,
até o ponto que vou ser obrigado
a parar,
outras pessoas são obrigadas a parar
antes de outras,
sem esperamos por isso
e com isso vamos morrendo por partes,
deixando migalhas para os corvos
por todo o caminho,
sei que não a como voltar,
então aprendo a lidar com o sentimento de perda
e impotência
e frustração,
pois somos muito mais fracos
do que achamos,
somos muito mais carentes do achamos
e aos poucos
como a morte das samambaias,
vermes e baratas
consomem toda a carne,
até mesmo as roupas
e o que eu serei
quando tudo se tornar
nada, além de mais uma
pequena porção
e insignificante de nada
que compõe
toda essa imensidão
tão minúscula?



 
Autor
GabrielsChiarelli
 
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