Capital, Março de 25
Sabes o que encontrei?
O pauzinho de gelado. Aquele, lembras-te? Eu disse-te que ía abrir o nosso livro e ler. Pois não o fiz. Assim que o tomei nas mãos caíu-me ao regaço o pauzinho de gelado, aquele gelado que eu comía no dia em que nos conhecemos e que tu atrevidamente me pediste para dar uma trincada... fiquei tão atrapalhada! Mas o que mais me intrigou foi a tua expressão séria, convencida, as tuas palavras quase severas de que sería a primeira de muitas coisas que nos alimentaría por dentro, no coração.
... O pauzinho de gelado. Tombou do livro a refazer o quadro do inicio da nossa vida. Cheirei-o, até o mordisquei... Lembro tão bem o teu hálito.
Foi há quanto tempo?
Quase há tanto quanto aquele que te sinto longe.
Não li a poesia do nosso livro, chegou aquele pedaço de vida e caíu-me no colo, falou-me as nossas palavras.
Isso também é poesia não é?
Tenho tanta saudades tuas.